PEDAÇOS E OUTROS ESTÔMAGOS

Adorar

e assim alimentar-te

da perna de uma, da boca de outra

transeunte anônima.

Amar

e por isso sorver com afinco

a derrière de uma, os olhos de outra

pedestre qualquer.

Venerar

para depois mastigar

novamente a perna de uma, a boca de outra

moradora que passa.

Ah, sem hesitações

respirar regaços que chegam,

sentindo uma gula maior

pelas naturezas mortas que te cercam,

pelo sabor acre de todas as coisas.

E no desfecho digerir.

Digerir e esmorecer,

que, às vezes, o desejo provoca

uma forte catarse

no fim do intestino,

uma sobra de tripas,

uma grave apendicite

terminal.

DO LIVRO:"BORBOLETAS NOTURNAS NÃO EXISTEM"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 03/03/2019
Reeditado em 04/11/2022
Código do texto: T6588965
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