ERÓTICA RETÓRICA

ERÓTICA RETÓRICA

No privado a pedir foto da bunda

Embora se punhete de esquecê-la:

A cabeça de baixo sabe imunda;

A de cima, s'esforça por mantê-la.

Ele, só de a ver, já a enxerga nua...

Ela sorri gentil, olhos de flerte.

Teclando amenidades, continua

Como uma píton face à caça inerte.

Troca ideias por horas, abre a lente

E lhe fala, olho no olho; tu a tu.

Mas disse, atrevidinho, algo indecente.

E, ardida, ela o mandou tomar no cu...

Outra bela, outro papo, outro rosto;

Elogia a miúdo o corpo todo.

Partilhando opiniões e mesmo gosto,

Cada qual é saliente do seu modo.

Safadezas à parte, s'entretêm

Perdidos em joguinhos de intenções

Que revelam tão-só que lhes convêm,

Para guardar melhor seus corações.

Assim, mordendo o lábio intumescido

Ou abrindo os ombros, insinuante,

Ela diz que ele pode ser querido;

Ele diz que ela pode ser amante:

O bico do seio d'ela se arrepia

Ao brilho de seus olhos reluzindo.

Mal se deixa levar na fantasia

E inopinado diz: -- "Olha que lindo!"

Sobre orgasmos e fotos em permuta,

Textos de deslavada putaria,

Vêm em socorro quando um "Minha puta!"

Periga intimidade co'a vadia...

Ela late, cachorra, desvairada

E sorri de libertar-se de quem é:

Soltinha igual arroz, a bem casada

Desnuda da cabeça até o pé!

Ele pede: "Faz isso... Faz aquilo..."

Sem pensar no ridículo que passa;

Exposto tanto quanto no sigilo

Quase circunstancial d'uma louraça...

E a madrugada insone face à tela

Na ilusão de se haverem companhia,

Mal veem já avançar pela janela

Outra alvorada raiar um novo dia.

Belo Horizonte - 24 01 2019