ÍNCUBOS

ÍNCUBOS

Rogo-te: Não te deixes enganar

Pelo meu fugidio e distante olhar...

Sim, tenho estado atento!

Percebes que me movo pelas sombras

E inelutavelmente tu me assombras

A cada vão momento.

Não se turvem os verdes olhos teus

A especular de mim sonhos de Deus

Ou estradas para o Além.

Ao contrário, como o húmus mais escuro,

Eu às turfas dos charcos me afiguro

Já sem qualquer porém.

Matéria putrefeita das baixadas,

Onde forte neblinam alvas geadas,

-- Manhãs de imensidão --

Sou antes a memória enternecida

Do que julgaste vir d'uma outra vida,

Mas é teu coração.

Não sou senão lembrança que passeia

Por estradas rurais na lua cheia

Ou por casas vazias,

Como se humanidade que, incorpórea,

Carregasse o estandarte da vitória

Entre terras sombrias.

Cuida que te assovio em meio ao vento

Tanta melancolia onde o lamento

Harmoniza a saudade.

E entende que ainda que escondido

Tu verás o meu vulto presumido

Por toda essa cidade.

Madrugada, sozinha pela alcova,

Ainda teu desejo se renova

E buscas impassível

O calor de carícias tão antigas

Que do limbo me admiro que persigas

Minha boca impossível.

Sem embargo, suspirosa tu me chamas,

Tendo a mão sobre a vulva posta em chamas.

Como se a minha mão

Pousasse novamente em tuas coxas,

A ponto de deixar-te marcas roxas

Tamanha excitação.

A bela se desnuda feito ninfa

Ao gozo liquefeito todo em linfa

A encharcar-lhe o lençol.

No entanto seu amante evanescente

De seu quarto outra vez se fez ausente,

Logo ao raiar do sol.

Betim - 03 12 2018