VISITANTE SOTURNO
VISITANTE SOTURNO
era quase meia noite
estava quase dormindo
quando ele
sorrateiro no vício
embriagado de repetições
veio vindo
veio vindo
meus olhos inquietos
semiabertos de quase penumbra
pendiam em pálpebras de quase sonho
e ele insistente
num intermitente martelar
caía-me sobre o corpo
revirava-me nos linhos dos lençóis
entre ais e não mais é hora
implora-me à lucidez
agora
agora
agarra-me à razão
amarra-me
e não mais digo não
levanto-me
quase em espanto sórdido
meu mórbido sono se vai
eu arrastada em algema
rendida à pena e ao papel
escrevo o poema
causador de tanto tropel
Mírian Cerqueira Leite