Tentação

Sondei o corpo dela e em cada curva daquele corpo encontrei ardor. Deitada no leito do deleite a mercê das consequências insanas, da fome de um instinto mais próximo do animal do que do homem. A lascívia se fazia, o prelúdio do sacramento era lento e gostoso, o único lugar onde a agonia é bem vinda, onde a tensão alimenta o desejo, instiga, provoca. Sondei o corpo dela, e vi naquela alma uma espécie de inquietação, insaciável, insana, despudorada, parecia querer reaver algo perdido, um vazio havia ali. Tranquei a porta das sensações imediatas, dissipando o mal que emergia, sepultei em terra longínqua o bem que derivava do casual, da barbárie. (Marc Raider, 2016)