Erótica É ótica

Erótica, é… ótica!

Duas da madrugada,

as palavras ficaram ressoando,

erótica, erótica…

Deve haver um erro,

sem ar,

quente, abafado,

derreteu-se algo em mim,

e ficou: é… ótica!

É isso.

Visão.

Noite quente,

calor, fornalha,

corpo quente,

fogo…

Acendo a luz,

fecho a porta,

lembro do fado:

“de quem eu gosto,

nem às paredes confesso”;

o anúncio da TV, chama a atenção:

– me liga, vai… Liga!

Erótica…

Sim, visão…

Começo a me despir

lentamente,

solto os cabelos,

eles se espalham

e cobrem as protuberâncias

de minhas curvas…

Acaricio lentamente meu corpo,

descendo suavemente as mãos,

a carne é firme,

sinto as pernas trêmulas,

olho no espelho,

gosto do que vejo,

sou uma mulher bonita,

sensual,

firme, gostosa, macia,

lembro outra vez:

“liga, vai… Liga”

O telefone está perto,

companheiro único,

preto,

frio,

mudo,

estático…

Ainda espero.

Continuo descendo as mãos

com suavidade,

sinto falta de carinhos,

olho a imagem,

é… ótica…

As pessoas não se olham,

não conhecem seu corpo,

não olham a si mesmas,

não se amam,

não se desejam,

não se tocam…

“Eu me amo… Eu me amo

“Tinha uma música assim,

seriam loucos?

Coisa de jovens?

Rock?

Não.

Amar a si mesmo

é o ponto de partida,

se não nos amarmos,

não amaremos a mais ninguém!

Eu amo a muitos…

Em cada um, eu amo alguma coisa;

a voz,

o gosto,

o cheiro,

o pensamento,

o olhar,

as idéias,

o desafio,

o perigo,

o desejo,

o sexo…

Mas estou só,

absolutamente só,

eu, comigo!

Erótica?

Talvez nos pensamentos,

nas rimas,

na inspiração,

só na ponta dos dedos,

digitando freneticamente,

nada mais…

Na verdade, só é.. ótica!

Visão de uma realidade virtual

visão de um sonho

que embalo no seio

como um filho que suga

meu leite,

aquela deliciosa sensação

de ser sugada,

amada,

comida, esmagada!

Lembranças…

Gostos, cheiros, fatos,

o passado…

Hoje já é o passado de amanhã,

então, só tem eu aqui;

preciso me amar!

Se não me amar,

se não houver um tico de narcisismo,

chegará a depressão,

mulher mal amada,

mulher vencida!

Penso…

Que desperdício!

O tempo vai correndo,

eu grito,

meu grito não tem eco,

os ventos espalham as pétalas da Rosa,

e o tempo continua veloz,

implacável!

Preciso,

sinto que preciso,

dividir, somar,

esse corpo com alguém,

preciso sentir outras mãos

que não as minhas,

tocando minha pele macia,

buscando meus caminhos,

palavras quase inaudíveis

arrancando meus gemidos,

sugando meu sangue…

Jogo os cabelos para trás,

acabei de escová-los,

coloquei a roupa de dormir,

deixo minha imagem

reflexa no espelho,

sou capaz de ver o brilho

das estrelas cintilando nos meus olhos,

na minha pele,

desnudo meu pescoço

mas nenhum vampiro

entra pelas vidraças…

Silêncio total,

só a brisa da noite

e os raios da lua

banham meu corpo quase nu,

chega um misto de prazer e sono…

Começo a dormir e

viajo dentro de mim mesma…

O que encontro?

Minha sombra vagando

pelos espaços vazios dos caminhos,

solidão…

É… ótica.

Nada mais.

Não existe nada,

além da imaginação!

O devaneio adormece

em meus braços,

viajo nos sonhos

e encontro meu príncipe,

ele vem da floresta encantada,

cavalga em minha direção,

me joga meio sem jeito

no dorso do seu garanhão,

o galope é forte,

e, no embalo da ilusão,

adormeço, só,

completamente só!

Quando os raios de sol

entram e me aquecem pela manhã

a cada aurora,

volto à rotina…

Ali adormeceu a poesia

e, agora, acordou a realidade…

Um dia como outro qualquer,

a rotina,

a vida,

a esperança,

a solidão,

a mesma ótica… Erótica!

Manuela Amaral
Enviado por Gabriel Versos em 12/09/2017
Código do texto: T6112312
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