AMOR SE FAZ EM BRAILLE
Amo te ver como amo ver o mar, paro, e vivo a admirar, tuas ondas em formas de segredos, e penso que a memória dos olhos é boa, mas não é melhor do que a memória dos dedos, cada lembrança tua é feita de pele e arrepio, a maresia era tua, mas você mesma tremia sem sentir frio, e era bonito, era lindo, teu corpo é o limbo em que meus sonhos se encontram, como tuas ondas encontram meu desejo rio, e o mar se revolta na medida em que em ti velejo, e eu te toco com calma, te toco na alma pra guardar-te na memória dos dedos, para acabar com teus medos, e te amar por fora e pelo avesso, e nos teus caminhos eu sonho, eu colho, durmo e amanheço, e desperto ao teu sussurrar, e me despeço da realidade ao teu gemido, e me encontro onde deveria estar perdido, e me perco onde mais quero me encontrar, o momento dura eras, e o movimento de onda das duas almas sinceras é dança, e os astros assistem as duas crianças, na eternidade de cada segundo, e pela tua boca eu memorizo o sabor do teu beijo, e com meus dedos eu guardo a tua pele em meu mundo, teus pelos, quadril e teus seios, o tato e o paladar se confundem, na mágica poesia da língua, e sabemos que falta muito ainda, antes que nossos desejos se inundem, os rastros no corpo são pistas, as marcas e os arranhões são documentos, sim, nós assinamos no calor do momento, mas não vamos nos arrepender tão cedo, pois se a memória dos olhos não lembrar, com certeza eu lembrarei com a dos dedos.