FEITO BALA

Eu girei como o mundo dá suas voltas,

E nas tontearias eu sempre chegava ao mesmo lugar,

Eu destruía as fibras do corpo nestas loucuras,

Em ideias sobretudo profundas e escuras.

Em que pese os esforços a pele que ardia se boicotava,

Apenas um segundo e as direções eram trocadas,

Sufocando a raiz que se despia e comichava,

Nas entranhas apenas um avesso querendo demonstrar.

Essa língua descontrolada soa como um sino tinindo e ardendo,

A transpiração liberando o animal que deseja ser abatido,

Até provar o suco das delicias que ascende além das estrelas,

E que faz delirar como as febres de quem se deixa tocar.

Se dissolve feito bala na boca, e atinge feito bala no peito,

Enfiando intrometidamente a mão abaixo do véu,

Que enlaça desde aquilo que pensava ser proibido,

Arregaçando as correntes de uma velha porta trancada.

Leonardo Guimarães Rosa
Enviado por Leonardo Guimarães Rosa em 17/04/2017
Código do texto: T5973695
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