Dentro

A esquina ensanguentada,

o labor da noite em dissabores etílicos,

o marido atrasado na estória de sempre,

trapos, farrapos,

homens

de fé e atrocidades.

Cambaleia meu corpo estupefato.

Cambaleia meu olhar embriagado.

Nem tanto.

Aborta-se meu verso em seios de outrem na madrugada.

Gatos, silvos distantes, telhados, politonia miserável.

De quem será o gemido?

De quem será o perfume?

De quem será o troféu?

De que será saciada a ânsia da vizinha?

Meus nervos surtam sedentos noite afora...

Bem sei.

Bem quis.

Fumaça e sorriso na porta dos fundos.

Chamego e correria ao ver meu desejo.

Sussurros e lábios vermelhos em minha chegada.

Por trás.

Sorrateiro.

Forasteiro.

Eu.

Abre-te, moça.

Corpos abertos.

Portões escancarados.

Berros acanalhados.

Dentro.

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 03/07/2016
Código do texto: T5686699
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