Ectoplasma

Quando te vejo, congelo-me,

Saio de mim.

Calada, observo aos dois:

Tu e ela.

Ela,

Ectoplasma de meu ser.

Apóia-te quando te abres.

Só te esbarra sem querer.

Ouve teus casos picantes,

Ri-se até mais não poder.

Conta segredos passados,

Confessa uma antiga paixão,

Desfia uma história presente,

Pede tua opinião.

Tu

Afirmas ser só nosso amigo,

Até nos chamas de "mana".

Roças pelos, mãos e carnes,

Pões músicas sugestivas

A meio caminho da cama.

Deixa-nos loucas, na dúvida

Entre os olhos e o olhar;

A tentarmos equilíbrio

Entre o quarto e o bar.

Eu

Quero manter a amizade

Calo o que sinto - o real.

Por dentro,  muita vontade;

Por fora, tudo normal.

Teu cheiro vem e me invade;

Engulo teus olhos com vinho,

Com shitake mordo os lábios,

Sorvo o gelado com carinho.

Toda vulcão bem contido,

Lava sob meu vestido.

Nós:

Insinuas algo a mais

A brincar de me querer.

No fundo, estamos iguais.

Ela segue a sorrir

E finge que não me vê.

(*) Gelado: sorvete, em Portugal.

(Verônica - Março/2010)

Verônica Marzullo de Brito
Enviado por Verônica Marzullo de Brito em 30/10/2015
Reeditado em 26/12/2015
Código do texto: T5431754
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