Desejos
No mar de prata e betume
Pairam meus olhos
E as lembranças do último verão.
Não há puramente o sofrer
Nem qualquer dor
Só restos de saudade
Anseios de liberdade.
Tento me manter imune.
No silêncio absoluto da tarde
Vou aquecendo o sol.
Em mim
Lúdicas miragens do desejo
Corpos nus e paisagens.
Resgato milagres
Sob o sopro impetuoso de Netuno
E as primeiras estrelas da noite me vestem.
Sou, então, a de sempre
Areia, sal e pedra
Como no princípio da criação.
Assino o documento de alforria
E enquanto ainda é dia
Me entrego.
Na mão, a carta náutica
Para as rotas do desejo
Que no tempo se perdeu
E no que só pode ser sonho
Me arremeto.
No espaço
Sou só eu
Comigo vai o mar
Teu olhar castanho
Borrascas de ilhas
Todas as marés.
Das fantasias que coleciono
Sou a tua atriz
E a cortina desce no último ato
Desperto somente areia.
Mormaço.
Beijo a todos!