" O ANJO CAÍDO "
Era uma vez um anjo
desses que andam atrelados
à vida de mulheres e homens
guardando-lhes
os caminhos.
De tanto voar,
sem mais nem porquê,
resolveu
fechar as iridescentes asas
e caminhar
como o fazem todos os viventes.
Desacostumado a andar
com pés descalços,
caminhou
numa conotação erótica
de aventura.
Não demorou
para que percebesse
que era difícil
evitar as pedras,
tropeçava no caminho.
As asas são
o arrimo dos anjos,
sentiu faltar-lhe
o equilíbrio
das asas presas em seus ombros.
Foi então que notou,
pela primeira vez,
faltar-lhe
o que tinham os humanos:
o sexo;
no desejo de superar as pedras
e ter culhoões e vagina,
entristeceu
e daria as asas pelo sexo:
queria a ambos.
Por que não ter,
como as mulheres
a luz do prazer
que lhes enfeita a alma
ou o badalo
de cristal, um remo
para navegar num mar
de encantamento?
_Diz-me tu
anjo caído que trocas
as penas das asas
pelas penas das pedras,
que no meio do caminho tem uma pedra,
e renuncias à vontade de voar
pelas almofadas pedregosas.
_Os homens,
respondeu o anjo,
voam com asas de prazer
com suas nervuras de asas!
Ouço o coração das pedras
o coração das fêmeas
enquanto fodem,
dos homens
que rompem as madrugadas
enquanto fodem.
E eu solitário
vejo-os acalmarem-se.
Eu mesmo permaneço em calmaria
e voo num orgasmo de voo etéreo
na pena de pássaros.