LITORAL
Não te negarias o abrigo do meu ventre
se o teu corpo em delírio e tormenta
alcançasse, sem pejo as minhas praias
Revolvesse-me e envolvesse-me
co' a força das tuas mãos de vento
e arrancasse desenvolto a minha saia
No ir e no vir fremente e teso
cobrissem-me as tuas ondas febris
inteirinha, co' este teu azul céu revolto
Ao som, deste teu marulhar envolto em ais
teus sais e beijos úmidos em meus ardis
Sarapintassem-me co' as tuas estrelas do mar
Co' as tuas conchinhas e espumantes cristais
Dar-te-ia o sucumbir escaldante
das minhas areias ao teu desaguar
Convulso colar, de pérolas choradas
e toda extensão, do meu corpo-litoral
Tornarsse-ia fecunda; e nacarada