Suspensos no fio da navalha do tempo

Com olhos baixos e muito medo

de todas as certas incertezas certeiras

vai dividindo comigo

os (todos) segredos que nunca antes compartilhou com ninguém

Eu, sem ética ou etiqueta quando se trata de nós,

amor,

invado, arrombo mesmo a porta do teu peito e abandono as formalidades

Te furto o ar e

me permito ser toda

Tua

Extravazo sentimentos e reinvento sentidos

para tudo que no mundo já existe ou um dia virá a existir

e também aquilo que crio num universo para-l-elo(s)

na esperança de ir desfazendo os nós

que nossos laços criam pelo caminho

Me refaço em teus braços

Invento mistérios

enquanto te ponho entre meus seios em son-h-o(s)

E deixo que os procure dentro de meus olhos-rio

dentro de minha boca-mar

dentro de minha vulva-oceano

a resposta de todas as dúvidas que existem entre

a terra,

o céu

e a densidade do que somos

Nuvem, poeira, instantes.

Subverto a ordem

do dia, de relacionamentos, da própria vida

Tomo de assalto teus pensamentos

Envolvo-te

Te faço meu servo

Te sirvo - uma bebida, um trago, te trago meu corpo ardente,

seus lábios (adentro) meu gozo derramo

O sol do lugar retiro

para que te demores mais, meu querer,

a meu lado

e desejes muito-tudo-toda

tanto mais possa estar

comigo

Revolvo

os dias,

as noites,

teu mundo

mergulho no mais profundo de nós

Paro a vida para te revirar indiviso

em meu colo, em nosso coito, nossa afeição

Mudo os ponteiros de todos os relógios e seguro os segundos entre os dedos

para que permaneças mais (“se deixa ficar”)

deixando tua pele encostada junto a minha pele, aconchegado em meu amar

assim despretensiosamente

mudo, quieto, inteiro

parado dentro de mim!

Dezembro de 2014.