Quente...

Quente, te abri os braços

e te prensei contra a frieza dos azulejos,

enquanto a agua corria feitiços

entre os nossos lábios e coxas

e o vapor

era como um nevoeiro sem cais,

e como faróis os nossos olhos

que conjuravam carícias e loucuras.

Quente, te devassei em detalhes,

percorri vontades, montanhas,

me perdi nos teus braços,

me afoguei em rios desconhecidos…

Renasci nesse ciclope demolidor,

desejado e disposto à morte,

músculo puro em combate incessante.

Morri com ele uma vez e outra

em amplexos de espada e corpo,

e gritos roucos sufocados na garganta

lutando por mais folego,

até aplacar os ecos das fomes antigas,

perder as forças e desabar de vez

no chão viscoso do campo da batalha,

achando gostoso morrer assim,

sem me importar com o solo revolto

e as estrelas que aos poucos

se desproviam de significados,

enquanto nossos olhos se fechavam

e dormíamos pequenas eternidades

até que nossos corpos lançavam raízes

que se cruzavam e se iam trançando

como um bordado verde

no manto do Tempo…

PENELOPE DOCE
Enviado por PENELOPE DOCE em 13/07/2014
Código do texto: T4880105
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