Quente...
Quente, te abri os braços
e te prensei contra a frieza dos azulejos,
enquanto a agua corria feitiços
entre os nossos lábios e coxas
e o vapor
era como um nevoeiro sem cais,
e como faróis os nossos olhos
que conjuravam carícias e loucuras.
Quente, te devassei em detalhes,
percorri vontades, montanhas,
me perdi nos teus braços,
me afoguei em rios desconhecidos…
Renasci nesse ciclope demolidor,
desejado e disposto à morte,
músculo puro em combate incessante.
Morri com ele uma vez e outra
em amplexos de espada e corpo,
e gritos roucos sufocados na garganta
lutando por mais folego,
até aplacar os ecos das fomes antigas,
perder as forças e desabar de vez
no chão viscoso do campo da batalha,
achando gostoso morrer assim,
sem me importar com o solo revolto
e as estrelas que aos poucos
se desproviam de significados,
enquanto nossos olhos se fechavam
e dormíamos pequenas eternidades
até que nossos corpos lançavam raízes
que se cruzavam e se iam trançando
como um bordado verde
no manto do Tempo…