Saudade rubra
Minha alma estava encharcada de amores,
e quantas vezes ouvia os suspiros loucos de uma paixão sôfrega.
Os fios de meus cabelos emaranhavam-se ao toque de tua suave mão.
E eu era tua e você era meu.
Juntos,
dois corpos em êxtase.
A dança tocava-nos, unia-nos.
Cálice e espada...
A rubra rosa tocava-lhe os lábios ressequidos do desejo que inflamava-nos.
Passo e saltos...
Ao ritmo que tocava-nos em constante encontro de peles,
pendia ao toque suave de nossas bocas, em beijos:
Em amor nunca d'antes questionado.
Eu e você.
Dois em um só.
A dança parou.
o salão em silêncio testemunha o adeus.
A sombra da saudade estampa as saias de minhas vestes tristes.
O laço em fita já não dá brilho aos cabelos que outrora bailavam, d'ouros.
Agora eu...
Sinto em minha pele a marca de tua ausência.
Ausência dolorosa em lembranças rubras,
sapatos largados em chão gris.
lágimas em cascata lavam-me a saudosa lembrança.
a pele cálida alimenta-se do próprio fogo
e desse próprio fogo se consome...
Restando-me apenas o sabor amargo de teu beijo
que em outrora adoçava a minha boca.