Balada dos Crimes
Todos os crimes que não cometemos
Estão acometidos de cometer.
Como a mão que afaga a amante,
A flor desmantelada nas mãos.
O vinho derrubado na mesa.
O beijo roubado da boca sequiosa.
O sangue que escorre como
Orvalhos rubros submergidos.
Os arroubos de um coração perdido.
O tempo extingue todo esse crime,
Extingue toda essa culpa.
Penitência que me interrompe,
Sussurros. Gritos de pecados.
O rancor insólito nos cárceres,
A mão que afana os afãs alheios.
O silêncio escondido nas frestas
Desta balada de crimes.
Alves Rosa