Soneto sobre um sonho
Não há sonho que, de certa forma, não conduza
a um remorso que nos persegue desde a hora
em que acordamos. O sonho é a hora difusa
do desejo frustrado; sexo que foi embora
e perpetuou-se em uma imagem confusa –
rascunhos dessa nostalgia de um agora
que nos deixa entregues à beleza da recusa
do tempo. Acordamos do lado de fora
de um reino do qual seríamos expulsos
para pedirmos exílio aos nossos algozes.
Os beijos que dei nos pés de uma mulher
é o que sustenta o ritmo de meu pulso,
mesmo que seja tudo um sonho. São doses
que o desejo vem me trazer numa colher.