Deixe o frio lá fora...
A noite está fria. Lá fora há corações desabrigados, mãos sôfregas e enrijecidas se espalmam nos rostos pálidos. Pela janela entreaberta ouço apenas o vento em silvos melódicos. Fecho os olhos e me abandono em um canto qualquer. De repente sinto não estar só. Sinto o silencio sendo quebrado. Sua voz soa suavemente inebriando-me... entorpecendo-me os sentidos... Sua imagem me invade devagar... mergulhando no avesso de mim... Desabrochando meus sentimentos mais perversos... Como poderia eu ser sua dama, serena... de lábios submissos? Se diante desse seu olhar ameaçador... Me dispo dos mais tórridos pensamentos? Nada mais fica inerte... Me fazes versos repartidos, talhados no fogo... Fazes de mim um momento de glória, um êxtase inexprimível... Traga-me esse amor faminto, esse coração sedento... Vem sem demora! devora minha saudade... Toma meu cálice... Vem, "Eros". Nada mais te peço senão um pacto comigo. Deixe o frio lá fora... Vem... Desatas minh'alma...