Janela discreta
Apagou a luz
fez o sinal da cruz
deitou, está chupando o dedo.
Eu aqui com medo
do raiar do dia
que de tão tardia
vê-la nua em pelo;
nesta noite fria
pela fresta eu via.
Por trás
um mural com colagem
e, na minha imaginação
só me via então
tê-la com tesão
acendendo-me em tua brecha.
Acendes-te a luz
vejo a Santa Cruz
sob o seu leito.
De repente
sinto o desejo infinito
de sugar-lhe o peito.
Isso não é jeito
despertar-me assim
mesmo que no fim
falto com respeito
ao violar tua privacidade
olhando-a com intimidade.
Se não és Januária? Solte a toalha...
Pois não sou o Chico
e desnuda fique
para que possa
por detrás da porta
matar meus desejos.
Agarrar teus cabelos
cair de joelhos numa oração
esfregando minha língua
no teu ventre frio
cabelos em desalinho
aqueço-te como vinho.
A míngua do teu carinho
por este lugar caminho
batente por batente
pela vida afora
latejante e carente
vou me embora.
Numa glosa nos satisfazemos
outra noite nos esquecemos
que existiu um dia
tal noite fria.