Janela discreta

Apagou a luz

fez o sinal da cruz

deitou, está chupando o dedo.

Eu aqui com medo

do raiar do dia

que de tão tardia

vê-la nua em pelo;

nesta noite fria

pela fresta eu via.

Por trás

um mural com colagem

e, na minha imaginação

só me via então

tê-la com tesão

acendendo-me em tua brecha.

Acendes-te a luz

vejo a Santa Cruz

sob o seu leito.

De repente

sinto o desejo infinito

de sugar-lhe o peito.

Isso não é jeito

despertar-me assim

mesmo que no fim

falto com respeito

ao violar tua privacidade

olhando-a com intimidade.

Se não és Januária? Solte a toalha...

Pois não sou o Chico

e desnuda fique

para que possa

por detrás da porta

matar meus desejos.

Agarrar teus cabelos

cair de joelhos numa oração

esfregando minha língua

no teu ventre frio

cabelos em desalinho

aqueço-te como vinho.

A míngua do teu carinho

por este lugar caminho

batente por batente

pela vida afora

latejante e carente

vou me embora.

Numa glosa nos satisfazemos

outra noite nos esquecemos

que existiu um dia

tal noite fria.

Paulo Augusto Menezes
Enviado por Paulo Augusto Menezes em 11/01/2013
Reeditado em 25/02/2013
Código do texto: T4078594
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