E pra falar de amor...

E pra falar de lábios, seios e desejos saturados;

Sem contar os olhares perdidos no escuro,

Sem contar nos dedos das mãos às vezes que lhe tocaram,

Sem contar os cortes cicatrizando num piscar de tempo, no passar dos olhos, no paladar do medo,

Sem ajeitar quadris, sem driblar o sono, sem delatar minha fascinação por suas maçãs rosadas,

Sem deletar o prejuízo cansado, preludio causado por todos os sermões,

E pra falar das cores, das dores e do pecado,

Pra te contar da outra noite que encontrei na madrugada com suas duas luas,

Pra repartir o meu cigarro, compartilhar meu copo, derramar o meu em todo o seu,

E pra desenhar sua panturrilha fiz de carvão, para cravar no tempo isso que era algo, que era algodão e céu, que era doce como seu gosto meio amargo.

Que era coisa que nunca se via, era coisa limpa, suja de vinho,

E pra contar cem vezes, cem historias, sem nenhuma presunção,

Sem contar prazeres, sem flertar rapazes, sem transar sozinho,

Sem driblar abismos, sem conhecer sorrisos e se nem tentar: perdão.