CIDADES DO CORPO - Poema de 1987

Na tarde de 25 de outubro de 2012

E volta a curva do dia

a espantar a superfície estagnada.

No viés das entranhas

brilha uma asa.

Nas cidades do meu corpo

o amor ensaia caminhos.

Teu corpo é uma foz

onde desaguarão minhas águas.

Amor, esse clandestino mutante

que vem do Norte

para contar as viagens

do mar e de suas passagens

pelos olhos de outras mulheres.

Amor que me traz nas asas

o cheiro de outras vertigens

e cresce, árvore de gozo,

na terra fértil do corpo.

A voragem de ser um

Não extingue a viagem das mãos...

esta cama, esta relva

esta palavra este sono

também fazem parte de nós.

O dia nasce, teus olhos

são campos de girassóis russos

tua alma transpira cheiros de Amsterdam.

Tantas cidades em ti

algumas, fundas raízes,

outras quase à flor das águas.

Cidades de outro tempo

emergem suas pontes.

O dia cai tão alto

sobre a nossa nudez

nos ergue

para outra viagem.

Publicação em 25 de outubro de 2012.