SEM RIMA 299.- ... sobre nudez ...
Cultivo neste poema "sensual"
a verdade nua em que, seja como for,
se acha envolvida a existência dos humanos.
Com certeza desnudos nos abriram as portas
ao Mundo e desnudos franquearemos o portão
da Morte.
Nudez diversa: literal ao nascermos,
simbólica quando falecermos.
Chegamos sem nada
e cedo nos investem de roupa e deveres.
Saímos,
talvez vestidos como se tivéssemos de cumprir
alguma estranha etiqueta, mas acontece que tudo,
inclusivamente a vestimenta fica neste planeta
dos nossos pecados.
É no nascimento que a nudez
é certa e própria.
Contudo, também falamos
nas árvores nuas ou singelamente de paisagens
nuas, pelo facto natural de carecerem quer de folhas
quer de vegetação.
Outros usos de "nu" e de "nudez"
menos têm a ver com a sensualidade que outorgamos
aos corpos nus de mulheres e de varões. São aqueles
referidos, acho que por metaforização, à simplicidade
e singeleza em atitudes ou em palavras; do mesmo jeito
dizemos nudez à privação ou falta, por exemplo, de bens.
Pergunto-me:
Quando liricamente alguém, varão
ou mulher, diz apresentar-se nua ou nu, deveremos
entender que despidos redigem os seus versos?;
que pretendem açular a nossa concupiscência
até os acompanharmos nessa conduta imprópria?
Mas é que será conduta imprópria redigir poemas
nus despidos, sossegadamente despidos,
se o clima nesse momento o permitir?