PORTINALHA
Olha senhora;
Não ponho em minha língua
Travas para não lhe desventurar,
Da minha boca escorre o mais profundo
Escaldar de venenos do teu amor,
Oras, faça-me o favor!
Não me olhes condenando
Tu sabes que sou rude,
E você;
Velha e desengonçada
Se um dia te toco,
É por pura misericórdia
E tu bem o sabes,
Sou flor de um campo limpo,
Sou pior que erva daninha
Você quem me plantou em sua vida
E tenho certeza;
Que não queres que eu me vá.
Impertinente é o seu calar,
Se não me falas;
É porque somente consente
Com a minha falta de pudor,
Venha querida mundana
Sinta-se irradiada de amor
E não me ignores,
Com esse seu olharzinho discreto.
De rabo de olho.
Pois minha senhora,
Vós mesma
Deu-se o direito de calar...
E somente consentir o meu escárnio.