SEM RIMA 227.- ... procuremos gostos ...

Se prazer vale por "sentimento agradável,

de gozo, de alegria, geralmente ligado à satisfação

de uma necessidade ou impulso vital",

por que nos aconselham reprimi-lo pessoas

que ousam afirmar falarem no nome de algum deus?

Se esse deus foi o nosso criador

e se assim nos criou, por que temos de corrigir

a sua obra, nós, que tentamos alcançar

o prazer?

E, se como outros entendem, prazer

for o "deleite produzido por ato sexual", porquanto

somos seres sexuados, que razões divinas alegarão

os que proíbem satisfazê-lo gostoso?

Prazer, igualmente,

equivale a "distração, divertimento, diversão"; confio

em que ninguém pretenda impedir mergulhar-nos

nestes prazeres, à partida, honestos.

Por que reprovo

os vetos ao prazer, tão humano? Porque o costume,

grande mestre das mentes e das condutas, ordena

mostrarmos prazer, "disposição que se caracteriza

pela afabilidade"...

Se este prazer não só é lícito,

mas obrigado, nenhuma razão justa pode impedir

os outros prazeres ou contentamentos jubilosos.

Bastantes dores e tristezas sobrevêm nas horas

da nossa existência para não aproveitarmos

os minutos de prazer intenso ou sossegado...

Portanto, gozemos: "Itaque carpiamus diem

et non dilapidemus. Quid est vita? Quid? Mater

infantem parens cui alii infantes male habere

qui tamen amabitur. Quid est vita? Quid? Locus

in quo vivimus plenus puerorum et puellarum

qui subrident, plenus beatorum hominum,

ceterorum tristium, eheu!

("Portanto, aproveitemos o tempo e não o estraguemos.

Que é a vida? Que? É a mãe que pare o menino

a quem outros meninos farão mal, o qual,

porém, será amado. Que seja a vida?

Que? Lugar em que vivemos,

cheio de meninos e meninas

que sorriem, cheio

de pessoas felizes

e de outras tristes, ai!)