SEM RIMA 173.- ... planura prazerosa ...
Continuei a imaginar,
levemente lascivo...
Submisso, prostrado, num instante
alarguei humilde os meus olhos
para contemplar chaira* prazerosa,
planura de brandas labaredas,
calmaria de ondas sossegadas...
A seguir, súbito, como em sonhos,
pareci navegar, Odisseu de sombras,
por mares deliciosos em perigos,
entre Cila e Caríbdis, escolhos delicados,
monstros de meiguice e suavidade.
Lá senti que me abandonava
ao naufrágio da languidez e da moleza;
lá me deixei arrastar voluptuoso
no redemoinho de carícias e de afagos...
Ainda fantasio me achar
deitado sobre espuma,
flutuante na tona da pele,
a sorver o orvalho dos beijos
dos nossos beijos infinitos...
...
(*) "chaira" s. f. (1) Pequeno vale ou veiga dedicado a diversos cultivos. (2) Planície, terra chã de maior ou menor extensão. (3) Cilindro de aço com o que os sapateiros ou os carniceiros afiam as cutelas. (4) Cutela de sapateiro. [lat. planaria]