ADIVINHAÇÃO (AGROMANCIA) & MAIS
AGROMANCIA I (19 ABR 12)
Realmente é difícil esperar o que se espera
quando se espera o que se espera realmente,
quando quanto se deseja, deseja estar presente,
quando o presente tão só espera concedera...
Mesmo sabendo que a espera recompensa
concederá ao que espera, em sua impaciência,
é duro te esperar e apenas na consciência
tua imagem resguardar, lembrar quanto se pensa
e esquecer tantas vezes ao longo de um só dia
a imagem que retorna de espera revestida,
imagem de aguardança na mente tão sofrida;
esquecer de esperar por quanto mais se aguarda,
esperar de esquecer o gume da alabarda
que corta a espera e esquece o corte da agonia.
AGROMANCIA II
O lavrador que espera lavra a terra
e a terra espera por ele ser lavrada;
espera a terra poder ser amanhada
e o lavrador quer a paz e não a guerra,
pois quando a espora o seu labor enterra,
fica a colheita inteira esperdiçada,
embora a terra seja até adubada
por todo o sangue que a guerra então descerra.
Espera o lavrador e cuida a chuva,
peneira o sol e mói parte do vento;
a terra os dedos lhe cobre feito luva
e pelo aguardo de calma ou tempestade,
não há ateus sobre a terra em crescimento,
mas erguem preces em sua espera da verdade.
AGROMANCIA III
De forma idêntica um caçador aguarda
e aguarda o pescador, paciente espera;
a vida antiga bem mais lenta era,
em suas nuances de ressonância parda.
Esses anos eram longos sob a guarda
das estações, em sua vasta esfera
e para o evento da chegada de uma fera,
espera o lavrador com sua espingarda.
E o tempo passa, nessa espera lenta
e lhe surgem na mente encantações,
nessa magia para os deuses propiciar
e sacrifica, nessa espera benta,
quando precisa para que suas plantações
possam no tempo da espera germinar.
AGROMANCIA IV
Igual que ao lavrador, se me apresenta
de minha espera a espera da colheita:
são beijos que eu espero desta feita
e nessa espera a mente se acalenta.
Igual que a mãe que o berço mais frequenta,
após a espera da gestação perfeita,
a contemplar a espera que ali deita,
na espera em Deus toda a esperança assenta.
Para que tenha belo tempo essa sua espera
e igual te espero eu, braços vazios,
vazia a carabina e igual a enxada;
vazio o anzol, na espera dessa esfera
de minhas preces e encantamentos frios,
nessa minha espera de quem não espero nada.
CORDEL I (20 ABR 12)
VIVI TRÊS VIDAS
OU TALVEZ QUATRO
OITENTA E QUATRO
FORAM MINHAS LIDAS
ENQUANTO VIA
DESPERDIÇAREM
TEMPO GASTAREM
EM VÃ FOLIA
EU ESTUDAVA
NOITES A DENTRO
DA VIDA AO CENTRO
EU PERSCRUTAVA
QUE O TEMPO É RARO
PURO DIAMANTE
SOM DELIRANTE
BELO E PRECLARO
OS DIAS DECORO
E ME CONDUZO
NO SOM ESCUSO
DE RUBOR CORO
SE NESTA TARDE
FAÇO CORDEL
JÁ COMI FEL
E O PEITO ARDE
E PARTO AGORA
DESANIMADO
DO RESULTADO
DA MORTA HORA
CORDEL II
MAS NÃO ESPERES
QUE HISTÓRIA CONTE
NEM ME AMEDRONTE
OLHAR DE FERAS
TAMPOUCO QUERES
QUE OS OLHOS FIRA
SE O MUNDO GIRA
ÉS TU QUE O GERAS
ESPERO APENAS
QUE NOS MEUS BRAÇOS
LONGOS ABRAÇOS
UM DIA GEMAS
E QUE TEUS OLHOS
NESSE BULÍCIO
GEMAS DE VÍCIO
NÃO MAIS ESCOLHOS
SALTEM À LUZ
QUE EU MAIS QUERIA
QUE NÃO SERIA
SONHO DE PUS
E SE HOJE EU FAÇO
TAIS FRASES CURTAS
É QUE NÃO SURTAS
NO MEU REGAÇO
MAS JÁ SOLTASTE
GRITOS DE AMOR
NESSE CALOR
QUE ME ENTREGASTE
CORDEL III
NO PATROCÍNIO
DE MINHA MEMÓRIA
REVIVO A GLÓRIA
DESTE ASSASSÍNIO
EM QUE EXPELI
MINHA BRANCA TROPA
DENTRO DA COPA
EM QUE AMOR VI
QUE TODO O AMOR
ALGO ASSASSINA
NA TRISTE SINA
DE SEU PENDOR
OU MORRE O ESPERMA
SEM RESULTADO
JÁ NAUFRAGADO
NA POLPA TENRA
OU APENAS UM
DESSES SOLDADOS
SACRIFICADOS
SEM PREITO ALGUM
ALCANÇA O ALVO
E SE DESMANCHA
APÓS NA CANCHA
SE JULGAR SALVO
MAS SE CONFUNDE
DENTRO DO OVO
EM QUE EM RENOVO
MAIS SE APROFUNDE
CORDEL IV
NO FIO DA LIDA
COMO UM CORDEL
NESSE QUARTEL
NASCE OUTRA VIDA
MAS QUE DIZER
DESSES MILHÕES
JOVENS LEÕES
A PERECER
E EM ABSTENÇÃO
DESSE CALOR
MORRE O FRAGOR
DESSA EMOÇÃO
MAS NA ESPERANÇA
VALOR MAIOR
MORTE MENOR
TALVEZ SE ALCANÇA
QUE A NATUREZA
DE PERDULÁRIA
CANTA UMA ÁRIA
SÓ DE INCERTEZA
MAS QUEM ESCREVE
VERSOS DE AMOR
NO SEU VIGOR
AINDA SE ATREVE
IR CONTRA A MORTE
NUM DESAFIO
DESGASTA O FIO
DA PRÓPRIA SORTE
KATE BLANCHETT I (21 ABR 12)
Com um sorriso nos lábios ela avança
pelo tapete vermelho que esticaram;
dezenas ao redor fotografaram
essa sua marcha com pernas de criança,
envoltas no negror que a meia alcança,
toda consciente do absurdo que botaram
esses tais que o desfile organizaram,
para que ela modelasse essa romança;
em seu sorriso desprezo e segurança,
mesclado a um muxoxo de ironia,
pois sabe bem que a ninguém mais serviria
a indumentária; e se outra uma esperança
nutrisse de mostrar-se a ela igual,
pareceria um estandarte em carnaval...
KATE BLANCHETT II
Pois realmente a impressão nos participa,
por certo obtida calculadamente
e que ostenta com seu jeito de inocente,
talvez bancando “pobre menina rica”,
que saiu às pressas, por razão que não indica,
e se envolveu na colcha, velozmente,
um braço e o ombro de fora, inteiramente,
e que nada usa por baixo comunica...
Mas de fato, só parece ser tricô,
com gola, fímbria e punho de babado,
embora seja apenas estampado...
Pensando bem, igual que ela eu sou,
revestido de versos absurdos,
contra as críticas fazendo ouvidos surdos!
KATE BLANCHETT III
Pois quem mais, senão ela, poderia,
com sua pele de perfeita alvura,
usar arco-íris com igual desenvoltura?
Quem mais contraste igual demonstraria?
E no seu passo elegante, desafia,
Quem engendrar pensamento sem ternura:
“Eu sou eu mesma, esbelta e de estatura
perfeitamente igual à que eu queria!...”
Quiçá não seja de todas a mais bela,
embora tenha interpretado Galadriel,
a rainha-elfa totalmente irresistível...
Mas quem a vê, sempre contempla nela,
de qualquer outra, um laivo azul de mel,
da variedade feminina inexaurível...
O RETORNO DA DEUSA I (18 fev 12)
Clitemnestra também nasceu de um ovo,
com sua gêmea, Helena, que uma guerra
teria provocado e toda a terra
feito embarcar em navios, gente do povo,
os nobres e os guerreiros, o renovo
da Hélade e das lendas, em que encerra
mil deuses e não-deuses, que me emperra
em tal teogonia, a um ponto em que mal movo
as pálpebras e já deparo em novos nomes
de heróis e semideuses, à porfia,
com tantos monstros compostos de ilusão.
Porém Clitemnestra, com suas fomes,
o marido matou, sem teurgia,
movida apenas por outra paixão...
O RETORNO DA DEUSA II
Segundo a lenda, foi Júpiter ou Zeus
que, como um cisne, a Leda engravidou;
os autores divergem, se a estuprou
ou seduziu-a com os encantos seus.
Foi avisar o marido e os dois sandeus
fizeram logo amor, pois afirmou
Tíndaro que a semente humana retomou
seu ventre; mas de fato, Polideuces
e Helena herdaram a semidivindade,
mas Cástor e Clitemnestra humanos foram,
dotada Helena de sobre-humana sedução.
Polideuces ou Póllux intentou, em sua bondade,
pedir a Zeus, pois ambos juntos moram,
que desse a Cástor a mesma proteção...
O RETORNO DA DEUSA III
O deus era piedoso e assim, ao invés
de do filho tirar parte dos poderes,
a Cástor concedeu idênticos pendores
e os dois irmãos, segundo antigas fés,
tornaram-se os Dióscuros, protetores
dos navegantes e no Zodíaco as sés
do signo de Gêmeos, através
da benignidade dos deuses superiores...
Contudo, como Cástor já morrera,
fez Júpiter trato novo com Plutão
e os dois passavam no Hades a metade
de cada ano; também assim se esclarecera
que no hemisfério sul essa constelação
ficasse oculta por seis meses, na verdade...
O RETORNO DA DEUSA IV
Porém os quatro nasceram de dois ovos...
Clitemnestra foi a mais prejudicada:
não se tornou semideusa essa coitada
e Agamêmnon foi lutar com outros povos,
em sua conquista de tesouros novos
e, para deixar Clitemnestra desolada,
não se contenta em deixá-la abandonada,
trouxe Cassandra consigo nos corcovos
de sua trirreme, após passar dez anos!...
Enquanto Menelau trazia sua Helena...
Como culpá-la por amante ser de Egisto?
Ou que tramassem os dois tétricos planos:
mataram Agamêmnon no banho, sem ter pena,
para seu nome desde então ficar mal visto...
JOVENS DE ROMA LXXV – SEMPRÔNIA (2009)
Quando me toma, é sempre de surpresa,
Depois de longos dias de adiamento,
Não que pretenda quebrantar o casamento,
Mas só lhe importa seu desejo, com certeza.
Qual uma honra conferida nessa empresa,
Porque nunca se entrega em vão momento
E nem movida tão só por sentimento,
Mas por me ver de sua luxúria a presa.
E só assim eu me percebo desejado,
Mais do que se diariamente se entregasse,
Não o faz por agradar, mas porque quer.
E em tal instante sou másculo e osculado,
Muito mais homem que essa fêmea amasse,
Nessa ansiedade de mostrar quanto é mulher!
RETORNO – 28/4/2011
Ontem eu vi a sete-léguas rebrotando
campânulas rosadas de esplendor,
se abrindo ao sol, em busca de calor,
mesmo que vão seus rebentos arrancando.
Na ausência de solo, enraizando
sobre o próprio cimento, em seu candor,
catando restos de poeira com ardor,
na platibanda do terraço se ajustando.
É admirável tal tenacidade,
após ter sido frondosa trepadeira,
arrancada até mesmo a derradeira
de suas raízes, sem longanimidade;
e em galhardia, se apega ainda à vida,
levando todo os percalços de vencida!...
IMPER(ATRIZ) – 26 DEZ 2011
No que tange a essas guerras europeias,
se encontra a França por detrás de todas...
A cada geração quizílias novas,
na ânsia impávida por novas epopeias...
O problema é que, em geral, tais odisseias,
criadas ao sabor de novas modas,
o mundo arrastam ao fundo de suas covas,
por mais que à Terra inteira suas candeias
iluminem com a ciência ou pela arte,
pela poesia e prosa mais formosa,
que as asperezas dos povos lhes alisem.
Mesmo assim, nada compensa essa outra parte,
porque os franceses são gente belicosa
e mal se pode contrariar o que eles dizem...
A GUERRA DOS OSSOS - William Lagos, 2008
A GUERRA DOS OSSOS I
Pisamos sobre o chão dos ancestrais,
já dissolvidos em sua substância:
cada cultura abriga nova instância
do que foi feito nos velhos afinais.
Por mais que se persiga outros rituais,
só muda a cor de nossa manigância,
a indumentária, a técnica ou a estância
em que repousarão restos mortais.
Alicerçada sobre um chão de ossos,
cresce a civilização e então decai,
e ao solo novos corpos acrescenta
nas vastas criptas dos antigos fossos.
E a nova geração assim recai
nas ilusões das mortalhas que alimenta.
A GUERRA DOS OSSOS II
Enquanto espero, deixo que meu grito
se espalhe suavemente e sem alarde.
É no silêncio que meu grito arde,
lentamente é que se mostra mais aflito.
É quando fica o dito por não dito,
é quando uma ilusão a alma albarde,
é quando um escovão o peito carde,
é quando a crença se transforma em mito.
É quando o grito mesmo silencia,
por falta de pudor, que grito exposto
é muito mais honroso que o oculto,
porém ao se despir do que gemia,
se entrega à impudicícia do desgosto,
nesse adultério com seu próprio vulto.
A GUERRA DOS OSSOS III
Há sonhos-filhos, também sonhos-esposa.
Alguns, a gente educa lentamente
e depois lança para o mundo indiferente:
que cada um vá colher sua própria rosa...
Ou que ache outra flor bem mais formosa,
que não lhe mostre espinho tão pungente.
A gente cuida e espera plenamente
que a chave encontre de paixão viçosa.
Outros há que se busca seduzir
e à vida mesma encadear com firme nó,
para que sejam companhia permanente,
mas quem os teme demonstrar ao existir,
é apenas cirurgião de tapapó,
na operação de um sonho inexistente.
A GUERRA DOS OSSOS IV
O fio da urina se torna uma varilha
de gelo fino, mas duro e bem dourado,
quando se vive em um país gelado,
em que a alma se condensa pela trilha.
Escorre meu calor, milha após milha,
desse sendeiro apenas palmilhado,
imagens brancas apenas a meu lado,
fumaça plena, do pulmão a filha.
Não têm ossos, porém, essas miragens.
São tão somente sopros de agonia,
que se descarta a cada expiração.
Nessa jornada por regiões selvagens,
em que deixei as marcas que queria,
mas que a neve sepultou sem compaixão.
A GUERRA DOS OSSOS V
Vejo fantasmas correndo pelas ruas,
desesperados, sob a chuvarada:
fantasmas não têm carne e a chuva irada
chega direto até suas almas nuas.
Ouço fantasmas uivando pelas luas
que não conseguem ver, na disparada:
escorregam e tombam na calçada,
fantasmas não têm pés, nem sequer puas.
O cemitério é longe e, em hora má,
escolheram sair das sepulturas,
mas por dó desses coitados não me prendo:
essas almas penadas do acolá
provavelmente têm intenções impuras:
batem-me à porta, porém eu nunca atendo!
A GUERRA DOS OSSOS VI
Esses fantasmas deixam covas rasas
e vão abrir as gavetas dos demais:
querem os filhos ver os mortos pais
e todos querem rever antigas casas...
Saem às ruas e nem conhecem mais,
demoliram-lhes as moradas em mil vasas,
sumiram os alicerces e as embasas,
vagam nas ruas, perdidos no jamais...
E é sempre mais nos dias de calor
que assim passeiam os fantasmas frios,
quando os sepulcros mostram rachaduras...
Por sob seus lençóis, qualquer amor
não conseguem conhecer, mas velhos cios
tem seu lugar sob antigas vestiduras...
A GUERRA DOS OSSOS VII
Os fantasmas do verão são mais saudáveis:
já passaram pelo Dia de Finados,
pelas preces dos vivos animados
e sustentados por seus dons imponderáveis...
Com energia maior os mais notáveis
dos mortos, que foram bem alimentados;
já os mortos esquecidos, os coitados,
só receberam migalhas miseráveis...
Mas uns tomam e outros distribuem;
alguns suplicam por um pouco de sustento,
outros se apossam, de modo violento;
e pelas catacumbas assim fluem
as energias pelos vivos distribuídas,
nesse arremedo sepulcral de vidas...
A GUERRA DOS OSSOS VIII
É por isso que alguns saem nas calçadas,
pisando leve nos locais que já pisaram:
é mais fácil vagar onde já andaram,
acham partes de si depositadas...
Mas vem a chuva e as gretas alagadas
expulsam esses restos que deixaram:
as pequenas referências se lavaram,
deixadas carregar por enxurradas...
É mais por isso que gritam e que correm,
no meio dos trovões da tempestade,
debilmente visíveis no fulgor,
mas os vivos sequer a um socorrem,
encerrados pelas casas da cidade,
agasalhados em qualquer resto de amor...
A GUERRA DOS OSSOS IX
Segundo dizem, qualquer católica igreja,
para ter consagrado o seu altar,
precisa ter relíquia a conservar:
um osso santo de quem quer que seja...
Ou, quem sabe, um relicário em que se veja
um fragmento de legenda tutelar,
da verdadeira cruz a revelar;
ou farrapo de roupa em que ainda esteja
o suor de algum canonizado,
um resto de mortalha, algo sagrado,
que não se deixa apodrecer nos fossos...
Mas de todas as relíquias, com certeza,
aquelas em que a fé tem mais firmeza,
sem qualquer dúvida, são seus pobres ossos...
A GUERRA DOS OSSOS X
Contudo, foi na guerra dos santuários
que mais se prolongou essa disputa:
foram ossadas espalhadas nessa luta,
rasgados foram assim tantos sudários...
E se reunirmos os fragmentos vários
da verdadeira cruz, como se escuta,
calculando por longe, se computa
que nessas multidões de relicários
não só se recompõe a vera cruz,
mas trinta e sete delas, sem engano,
desde que sejam os pedaços encaixados,
pois assim que a fiéis crentes se seduz,
osso por osso, vestimenta e pano,
pelas carnes dos santos abençoados...
A GUERRA DOS OSSOS IX
Não que afirme que os ossos que hoje existem
não sejam as relíquias verdadeiras;
quanto padre, quanta freira, com certeiras,
louváveis obras, lá nos céus consistem
essas legiões de santos; só que insistem
em desmembrar as vértebras primeiras,
em repartir as tíbias milagreiras
e em longes templos seus artelhos distem...
Não é de duvidar... Pobres fantasmas
de tais santos e beatos nesse dia
em que se aprestará o Juízo Final...
Para juntar seus ossos, tanto pasmas,
qual me surpreendo eu, na minha folia:
muito melhor cremação pura e total!
A GUERRA DOS OSSOS XII
E finalmente, ao ver os cemitérios,
esses depósitos de osso e podridão,
só de pensar em quanto o mundo é vão
e até que ponto chegam despautérios...
De que servem esses restos, refrigérios
que deveriam servir de nosso chão,
como milhares de outros se acharão,
recolhidos em longínquos monastérios.
Que não fiquem em ataúdes carcomidos,
nessas gavetas de tão arcano vício,
penetradas por insetos pelas fendas,
mas que sejam os ossos recolhidos
e cremados a Deus, em sacrifício,
como queimavam as antigas oferendas...