VIRGENS NUAS & MAIS

VIRGENS NUAS I (15 abr 12)

Há muitos mitos em torno à virgindade,

repetidos através da história humana;

de chegar virgem ao casamento uma se ufana,

outra procura promiscuir-se em alacridade...

Era costume desde a helena idade

oferecer, por qualquer razão insana,

virgens aos monstros e mesmo na romana

história arcaica igual mortalidade.

Só que entre estes, em mais puro simbolismo,

cortava-se a garganta, que a alma alada

subisse ao Empíreo para aos deuses suplicar;

ou em gesto de arcano barbarismo

era no Fórum morta e degolada,

lançada ao Orco para os mortos aplacar...

VIRGENS NUAS II

E o costume continuou no Cristianismo:

Onze Mil Virgens foram santificadas

por terem sido aos hunos enviadas,

para a cidade salvar do barbarismo...

Diferem as lendas no seu romantismo:

em umas, foram então martirizadas;

em outras, pelos hunos desposadas;

nestoutras, respeitaram o virtuosismo...

De qualquer modo, mandaram-nas embora

e bem duvido que, em sua maioria,

partissem elas voluntariamente...

Talvez algumas chicoteadas nessa hora

ou acorrentadas em cadeias sem magia,

abandonadas por família indiferente.

VIRGENS NUAS III

E por efeitos do monasticismo,

foram milhões encerradas em conventos,

votadas ao harém dos casamentos

com Jesus Cristo, a aliança seu batismo,

desnudas ante Deus, nestes momentos,

as cabeças raspadas em ascetismo,

seus ventres ressequidos em monismo,

lábios tocados tão só por sacramentos,

igual que as Virgens Vestais da Roma antiga,

que pelo menos, só serviam trinta anos,

podendo após sair e se casar...

Consagradas de meninas, a deusa abriga

seu sangue menstrual em longos canos,

com mil cuidados, para o fogo alimentar.

VIRGENS NUAS IV

Mas o que era feito com a menstruação

dessas monjas, aos milhares segregadas?

Nos seus hábitos quaisquer manchas encarnadas

não poderiam mostrar a ímpia visão...

Onde lançavam a ressequida brotação?

Ficando as terras para sempre esterilizadas

pelo contato dessa água; envenenadas,

que era doença feminina e maldição...?

Isso afirmou-nos São Tomás de Aquino,

a sua doutrina desposada pela igreja,

nos longos anos do obscurantismo...

Eu creio mais no unicórnio masculino

que só a pureza de uma donzela veja,

por mais que o tenha negado o Cristianismo.

RECUSA (16 abr 12)

Não será assim que me darás teu ventre,

num encontro casual e sem motivo.

Só te desejo de modo mais altivo

e não que em ti apenas eu me adentre.

Até já tive momentos de agonia,

em que me derramei, em branca chuva,

na carne firme e justa como luva,

em que explodir por um momento parecia.

Mas não te quero assim. Terei de crer

que realmente há mais do que sexor,

ou interesse, conquista, ou gratidão.

Só quero te possuir por puro amor,

sem qualquer dúvida que possa perceber

de que me entregas muito mais do que paixão.

ESTORNO (17 abr 12)

Se há uma coisa que muito me atrapalha

é o tanto que te dei, por pura graça,

pois se um dia o corpo teu em mim se abraça,

eu pensarei que como amor não valha.

Mas que seja o fulgor dessa acendalha

apenas pagamento, o que me embaça

todo o prazer do afeto, luz sem jaça

e no maior carinho acharei falha.

Eu bem sabia, quando te apoiei,

que de ti eu esperar nada podia,

envolto nessa teia de pudor.

Que seja o beijo então que não te dei

a cor azul da paga que confia

na desistência final de teu amor.

CACHOS DE GLICÍNIAS I (18 abr 12)

Penduram-se amentilhos como uvas,

Despencadas em cachos violeta,

São quase orquídeas, em ambição secreta,

Os caules verdes finas mãos em luvas.

Parecem-me espiar de seus poleiros

Esses pequenos bandos de morcegos:

Nariz e boca tem, porém são cegos,

Embora mostrem ouvidos altaneiros.

A cada pétala uma língua corresponde,

Como se fossem insetos estivais,

Borboletas monarca em migrações.

E me indago qual segredo se me esconde,

Aberto aos beija-flores, nada mais,

Mas sempre oculto do meu coração.

CACHOS DE GLICÍNIAS II

Dizem em inglês serem “Caudas de raposa”

As inflorescências longas e invertidas,

Já desde o nascimento percutidas

Pelos lábios do vento. Valorosa

Cada uma delas, a mergulhar, formosa,

Em seus abraços suicidas, desabridas,

Quais se o quisessem realmente; de incontidas,

Querem lançar-se à terra dadivosa.

Mais ai! Caso se joguem neste solo,

Encontrarão no máximo essas gretas,

Delimitando em cimento o calçamento.

Não tombarão sobre a terra no seu colo,

Mas estiolarão sobre essas lajes pretas,

Sem brotação ao final do sofrimento.

CACHOS DE GLICÍNIAS III

E QUANDO SOPRA O VENTO OU TEMPESTADE,

UM POUCO MAIS FEROZ E VIOLENTA,

DESCABELA-SE A GLICÍNIA NA TORMENTA,

EM TAPETE GENTIL DE INERMIDADE...

MAS SE OS GALHOS SE SOLTASSEM DE VERDADE,

TALVEZ SAÍSSE CAVALGANDO, FRIORENTA,

E SE ENCOLHESSE SOB O ALPENDRE, PARDACENTA,

QUATRO AMENTILHOS COMO PATAS DE SAUDADE.

MAS NUNCA O FAZ. E AS PÉTALAS MACIAS

EM VÃO SE ARRASTAM POR FINAS CAVIDADES

EM QUE AS RAÍZES SE POSSAM ENFIAR.

POSSO CONTAR QUE SUAS VOZES NÃO OUVIAS,

MAS RECLAMAM DO DESTINO SUAS MALDADES

E JULGAM DEUS POR QUERÊ-LAS CASTIGAR.

CACHOS DE GLICÍNIAS IV

COISA PARELHA ACONTECE À HUMANA GENTE,

QUANDO OCORRE UM TUFÃO OU TERREMOTO,

SUAS CASAS DESTRUÍDAS POR IGNOTO

DEUS VIOLENTO, CRUEL OU INDIFERENTE...

UNS PENSAM SER CASTIGO E FAZEM VOTO

DE PENITÊNCIA OU NOVENA MAIS POTENTE,

ENQUANTO OUTROS, EM MARTÍRIO INGENTE,

A DEUS PROTESTAM, COM SUAS MÃOS EM COTO...

POR QUE TAIS COISAS SEU PODER NÃO IMPEDIU?

COMO SE DEUS NO TEMPO SE IMISCUÍSSE...

MAS A GLICÍNIA CHORA A MORTA FLORAÇÃO

DOS AMENTILHOS DESNUDOS, QUE NUTRIU,

PERDIDA A SEIVA QUE NELES SE INSERISSE,

REUNINDO FORÇAS PARA A NOVA BROTAÇÃO!

REALEZA I (28/6/2006)

Porém, já repassados os meses, à porfia,

Sinto em minhalma ainda o mesmo que sentia

E inda te quero mais, pois deusa já não és

E a carne se aferventa na mesma altaneria.

Não creias no que dizem, que a carne agitaria

Apenas o desejo enquanto não teria

A carne submissa e embaixo de seus pés

E logo em satisfeita, então se afastaria...

Ao contrário, comigo, é o não-ter que me afasta:

O ter é um delirante almíscar que me empasta

Da especiaria líquida e plena de ilusão...

Que por ser material, não deixa de sedosa

Flor revelar-se em mágoa tão formosa

Que a cada vez que a esmago, perfuma o coração.

REALEZA II (16 FEV 12)

Não que me sinta qual do sândalo a madeira,

Naquele antigo e tão batido ramerrão,

Que perfuma sem rancor o machado da irrisão

E em olor redolente a frase zombeteira...

Eu me refiro, de fato, à tristeza corriqueira,

Que nos tende a remoer qualquer paixão.

É essa a mágoa que tomo pela mão

E esmago entre meus dedos, bem certeira.

Porque enquanto está inteira, me corrói

E me impregna a alma de mau cheiro,

Mas quando a esmago, faz-se submissa

E se evola no ar, névoa de incenso em missa

E me embalma o coração no instante mais ligeiro

Em que o amor se renova e a mágoa já não dói.

REALEZA III

Que todo amor possui seu tom almiscarado,

esse perfume agridoce com sub-tom azedo,

meio ácido e amaro, que surge desde cedo,

na menor rusga de amor que abale o enamorado.

Amor é essa fila de ordenar descompassado,

esse ciúme bobo que ao penar concedo,

essa vaidade tola encalacrada em medo,

esse vaivém gentil do peito iluminado...

Porém amor subsiste tão só na permanência:

é na repetição que se obtém conforto,

como se aprende a amar medíocre canção,

somente de escutá-la em sua impertinência,

no rádio ou na novela e nos ancora ao porto,

mesmo contra a maré que se tem no coração.

REALEZA IV

Assim, não é no ter que acaba a realeza,

tudo isso é vezo de falso romantismo,

do menestrel a recusar taça de vinho,

para mais lamentar seu amor pela princesa.

Adoração se dá à deusa da certeza,

que em troca da oferenda arcaica do azevinho,

seus favores nos concede, sem mostrar cinismo,

nessa confiança mútua da própria natureza.

E não se louva, afinal, a aparição esguia

que se entrevê somente na bruma da elegia,

esse fantasma sutil do descaminho...

É apenas a ilusão que nos leva a persegui-la,

enquanto a realeza assenta-se na argila

dos beijos e rotinas envoltos em carinho...

MUTIRÃO DE UM SÓ I – 15/2/12

A maioria dos poetas do presente

não se esforça realmente por cantar;

pensa que basta no papel lançar

frases soltas, com vaidade complacente

e raramente tem em si presente

os modelos do passado acompanhar;

frequentemente vão até se recusar

a ler quem lá escreveu ardentemente.

“Para manter a originalidade”,

segundo dizem, outro nome da preguiça

e copiam uns dos outros calmamente,

nada dizendo de novel verdade,

somente afirmação muito sediça,

reduzida à expressão mais indolente...

MUTIRÃO DE UM SÓ II

E que fazer quando quatro gerações

se criaram à sombra de cronistas

que pretendiam poesia ter em vistas,

mas recusavam todas as suas noções?

Eu li os clássicos, em grandes multidões:

os poucos deles que eram bons harpistas,

os medíocres que imitavam suas conquistas,

tudo filtrei no ar de meus pulmões.

Sigo os modelos, porém não servilmente:

alinho meus sonetos à vontade,

embora ainda prefira os florentinos;

faço desenhos até, eventualmente,

brinco com versos, sem qualquer vaidade,

sem ir atrás de sucessos repentinos...

MUTIRÃO DE UM SÓ III

Mas eu sei quão difícil é vender

poesia nestes dias que nos correm.

Durante as feiras, as pessoas que as percorrem

de preferência querem prosa ler...

E quem poesia dispõe-se a recolher

só aos nomes mais famosos lá recorrem,

esses versos cardinais que nunca morrem.

(De Bilac e de Raymundo as pombas ver...)

E logo encontram outros nomes já famosos

entre os chamados poetas mais modernos:

compram o livro para se desapontar.

E assim contemplam, com olhares desairosos

os novos nomes, na capa dos cadernos

que as editoras vêm apresentar...

MUTIRÃO DE UM SÓ IV

Porém eu busco refazer o ideal,

em que a poesia ao coração cantava:

métrica sempre a rima acompanhava,

havia ritmo e a cesura natural...

E assim queria me tornar fanal

da nova geração que despontava:

indicar-lhes o caminho que buscava,

na inspiração potente do jogral...

Porém me vejo a remar contra a corrente.

Ao verso livre essa gente se prendeu:

parece fácil e plagiam-se sem dó...

Enquanto eu sigo nesse esforço ingente,

neste meu canto que o mundo já esqueceu,

em minha missão do mutirão de um só...

jogral dos mudos I (8 fev 12)

junto de mim respira. suas narinas

arfam de leve. um pelo só se move,

segredo desvendado que comove,

a leve falha nas feições tão finas...

contemplo nela gestos de meninas,

quando seu rosto levemente encove

a sombra de um sorriso e então se louve

essa pureza de fadas peregrinas...

ela respira assim, adormecida,

bem a meu lado, confiante e delicada,

bem segura, afinal, do seu poder,

pela certeza de se saber querida,

quando se entrega à bênção consumada

de se deixar a meu lado adormecer...

jogral dos mudos II

junto de mim respira e escuto a voz

involuntária que sai de suas narinas;

contemplo de seu rosto as veias finas,

durmo com ela e ainda estamos sós.

cada qual marcha do próprio sonho empós:

ela suspira, amargando as próprias sinas;

suas ilusões tropeçam nas esquinas;

na adolescência seus sonhos têm a foz.

e nesse mundo interno não consigo

por sequer um instante perlustrar;

tampouco ela seu sonho alfim recorda;

embora eu mesmo, para meu perigo,

quisera nesse mundo penetrar,

ficando preso no instante em que ela acorda...

jogral dos mudos III

deste modo, o teu sonho não perpassa

minha testa, qual orvalho matutino,

nem o meu sonho, por mais seja peregrino

se esvoa para ti quando te abraça...

pois é preciso que a membrana se desfaça

que de ti me separa, de inopino,

e se formasse um caudal, bem pequenino,

de que pudesses sorver, qual de uma taça.

tampouco bebo o teu sonho, inda que queira

e de forma similar, não tens o meu:

só te posso revelar quando acordado.

mas de um sonho se recorda só a esteira:

o barco já passou, alçado ao céu,

pois mais que durma toda a noite de teu lado.

jogral dos mudos IV

outra película existe, no ademais,

entre minha mente acordada e a adormecida;

só por osmose, um tanto desnutrida,

perpassam minhas lembranças desiguais;

porque os sonhos, do sono naturais,

são primos ricos dos sonhos desta vida

e sua realização já foi sentida,

sem que precisem buscar os seus finais.

por isso, os sonhos acordados têm inveja

desses sonhos do sono coloridos

e os procuram buscar pelo inconsciente,

em que a lembrança tão só memória beija,

enquanto os sonhos diurnos são perdidos,

por mais que seu sonhar seja frequente...

jogral dos mudos V

e se sequer para nós se comunicam,

como os podemos transmitir a outrem?

é só o restolho que à memória vem

e seus tesouros do consciente ausentes ficam.

e quando dois o seu sonhar explicam,

ficam perdidos nesse vaivém...

em reflexos de sonhos se entretêm,

com idílios do dia o sonho esticam...

nessa leve solidão fundamental,

porque é possível dizer o que se pensa

e até mentir aquilo que se sonha,

mas o sonho verdadeiro é fantasmal

e se dilui do dia na presença,

por mais que o coração se abra e exponha...

jogral dos mudos VI

quando se ama, declama-se a poesia

que encaderna os nossos sentimentos;

é até possível escandir os fragmentos

e repetir os versos da elegia...

quando se vive em rápida harmonia,

coro se faz em todos os momentos,

percutido por pequenos julgamentos,

quando se tem amor por garantia...

mas os sonhos do sono são silêncio

que se busca vestir de lantejoulas,

não mais que sinos rachados de cristal...

e os mais secretos para ti eu mencio-

no, sob o licor gentil de mil papoulas,

palavras mudas deste meu jogral...

REMORSO

Escusa de acusar-me, fugidia,

Imagem luminosa de [tres]noites,

Na boca amarga o gosto dos açoites,

Da boca que beijei em salmodia.

Escusa de culpar-me em pensamento

Ou às claras mesmo, em gesto decidido,

Julgar que me tornei envaidecido

Ou por orgulho desprezo teu lamento.

Porque minha parte fiz -- e mais que ela!

Teu chamado escutei e, sem cautela,

Lancei-me aos braços frios que me estendias.

Não te podes queixar-- nos separaram

Os ventos mesmos que breve nos juntaram,

Se amor foi mesmo o que por mim sentias...

SLUICE GATE

Feel I'm running ahead of myself:

Cannot reach me; I sprint too fast,

All those poems a-springing steadfast,

Scarcely can be afforded by the pelf

Of time that my fingers can handle.

There are too many, cannot broadcast

To those that are willing to repast

Upon the sorrows' dark and gleeful candle.

So I keep showing off soul and brain,

Arteries open, suicidal hemorrhage,

No coagulation can this flow contain.

The sole relief is that you read me:

My pain the look of your eyes assuage,

And by trapping my soul, you set me free.

ENXERTO

Esta série de sonetos herculanos

Exige mais de mim que as simples linhas

Que brotam lá de dentro, sem mesquinhas

Intenções de programas sobre-humanos.

São "poemas-cabeça", intelectuais,

Como falam na gíria, são pesados,

Encaixados no esquema, marchetados

De forma e objetivo artesanais.

No fundo, são sinais de aleivosia,

Busca de efeitos, coriscos de implosão,

Imagens oratórias da razão...

Pois um poema-cabeça é porcaria:

É artificial; muito menor valia

Possui, do que um poema-coração.

ROSÁCEA

Muito longe de ti me quedarei,

Sozinho sempre e sem lembrar saudade,

Até que, suavemente, a mocidade

Se escoe, como o vinho que tomei...

Mas tão perto de ti sempre estarei,

Que a ti meu ser inteiro está ligado,

No rosicler amargo experimentado

Em roçagar de pálpebras que amei...

Que distância e presença são quimeras,

Que à própria contradita se antepõem,

No mar da ausência azul tantas galeras,

Quantos remos os dias nos propõem;

E, se em memória apenas consideras,

Os dias passados juntos nos repõem...

VISITANTES

Não gosto dessa gente que visita

minha filha. São ruidosos e grosseiros,

vulgares, beberrões e interesseiros:

sua presença cheira mal e irrita.

Mal consigo trabalhar quando se agita

essa gente, com seus rostos bagaceiros,

que me causa desgostos verdadeiros,

com suas risadas tolas e a maldita

barulheira do rap, um som insípido,

que têm por música, pois nem sequer o rock

mais apreciam... Estragam aparelhos,

gastam-me a luz e o gás em seu estúpido

socializar, em seu vulgar enfoque,

irresponsável, de que são espelhos.

ESCRÚPULOS

De novo em nova empresa, sem amor,

mas merencoriamente prostituído;

nem sequer penso mais ter merecido:

sinto-me grato por todo esse labor.

Um dia, talvez seja conhecido

e verei recompensado o meu valor;

mas agora, morto o sonho multicor,

eu me contento com ter conseguido

o envio de trabalhos, bem constante,

que me mantém e aos meus. Assim eu vivo

em relativa paz, sem amargor,

sem mais pensar no anelo delirante,

na saudade de amor, no ideal altivo

que ainda há pouco buscava com vigor.

TEIMOSIA (2008)

Eu retorno à batalha após derrotas.

Hoje perdi mais uma escaramuça.

Não sei porque a amarga carapuça

me foi imposta ao rosto. São ignotas

as razões que me impõe a sociedade.

Porém nunca me entrego. Vou à luta:

meu grito de batalha o mundo escuta,

por mais funesta que me seja a divindade.

Perdi meus dedos, mas ainda tenho cotos.

Não sei de onde partiu essa emboscada,

nem qual a fonte que teve essa traição.

Eu desconfio apenas em que esgotos

da mente humana geraram luz manchada,

que retalhou-me, sem pena, o coração.

ESCOLA DESERTA (14 JUN 11)

Matriculei-me na Escola da Saudade,

Número Zero da Avenida Solidão.

O meu caderno é apenas um borrão,

em que registro, com pontualidade,

as tuas ausências, em veracidade...

És infrequente no meu coração.

Eu te envio fotocópias de paixão,

xeroxes, enfim, de vacuidade...

Pois não te encontro na hora do recreio,

nos livros não estás da biblioteca

e nem te vejo durante a religião...

E na educação física eu receio

não te verei sequer usando beca

na formatura de meu Curso de Ilusão!

William Lagos
Enviado por William Lagos em 23/05/2012
Reeditado em 24/05/2012
Código do texto: T3684675
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