Camisola
Minha camisola é branca e transparece meu corpo.
Meu desejo é longo e rouco e às vezes tão pouco.
Mas, a minha camisola deixa cair a parte do ombro.
No cio torno-me gata e louca te quero ao meu lado.
Meus passos vagueiam noite adentro pelos aposentos.
Não quero lembrar seus afagos, seus dentes ardentes.
Caminho por entre quartos, salas, sofás, camas, vidros.
Seu corpo me atira à poltrona, à cama: tudo invenção.
A camisola agora já é cor preta e desenha meu corpo nu.
Minhas pernas estão entrelaçadas às tuas e me comove.
A minha campainha pode tocar e jogar minha veste ao chão.
São dois movimentos: a camisola tonta e as pernas loucas.
Na verdade são mais coisas, muito mais coisas que lembram você.
As gargalhadas fortes e decididas e entregues e lindas e lindas.
Nossos segredos cochichando tudo que só cabia a nós no silêncio.
Os planos de envelhecermos para sempre envelhecermos junto.
A minha camisola voa e revela meu corpo sendo branca ou preta.
Construímos um mundo que me dá o presente chamado saudade.