SEM RIMA 113.- … mulher andante …

Vejo a mulher andante

Não a vejo quixotesca

(Eu também não sou sanchopancesco)

Vejo-a feliz e sedutora

Carnuda e globosa a irradiar sóis

Pernas livres a transbordar beatitudes

Minissaia breve a pregoar diabruras

Vejo-a não rosa, mas roseira acendida

Desejo frontal e esperança em descuido

Rios redondos ou colunas perplexas

Meus olhos acariciam brandura e maciez

Inebriam-se de assombros e deleites

Pressentem arco triunfal das sete cores

Minhas mãos peregrinam extraviadas

Labirintos cordiais dos anelos loucos

Erram pele e rebento de flor e chuvisco

Anel aberto

Flor desabrochada

Êxtase compartilhado

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Li o poema de Vinicius de Moraes, “A Mulher que passa”, e assaltou-me a tentação invencível de escrever outro, como se fosse uma Alícia duvidosa perante o espelho.

“A mulher que passa”

Meu Deus, eu quero a mulher que passa

Seu dorso frio é um campo de lírios

Tem sete cores nos seus cabelos

Sete esperanças na boca fresca!

Oh! como és linda, mulher que passas

Que me sacias e suplicias

Dentro das noites, dentro dos dias!

Também achei na rede um comentário interessante a “A mulher que passa”, que por sua vez pode ser comentado. Foi postado por Valéria de Cássia Pisauro Lima (Marcadores: A mulher que passa, Modernismo II, Vinícius Moraes):

Neste poema encontra-se ecos baudelaireanos (“Les Fleurs du mal” – simbolista), apresentando existência de uma intertextualidade com o poema “À une passante”.

Vinícius assume o papel de trovador e exalta de forma idealizada os aspectos físicos e a graça de uma passante.

No plano semântico, o poeta ao descrever a beleza da mulher que passa, explora o efeito conotativo da linguagem e potencia o sentido dos versos através de figuras de linguagem que se projetam na imaginação visual do leitor, despertando-lhe impressões sensoriais carregadas de intenso sensualismo.

A figura feminina surge como se fosse manifestação espontânea, transitória que aparentemente, despreocupada com a multidão e com o que acontece ao seu redor, tem à capacidade de transformar o ambiente pela sua simples presença e passagem.

Trata-se de uma mulher bela que tem seu corpo parcialmente exposto aos olhos do observador/poeta, trazendo consigo algo de sublime, uma vez que é colocada como um ser superior para onde convergem as formas elevadas da existência.

Após a descrição da “mulher que passa”, o solitário observador/poeta entra em transe, pois essa mulher atrai sua atenção e embora silenciosa faz-se entender por meio de seus gestos e comportamentos, tornando-se misteriosa para ele.

O poeta ignora o passado da mulher, assim como desconhece o seu presente, deixando visível esse aspecto de transitoriedade, ao mesmo tempo, não apreende mais do que sua beleza e presença.

A passante é fria e indiferente, ao mesmo tempo, faz com que o poeta sinta-se completo (“me sacia”) e aquece-o mesmo mantendo distância.

Sua passagem acontece rapidamente, como é sugerido pela pontuação do poema; entretanto, essa imagem é marcante para ele que dura o tempo de sua presença.

Ela estimula ao pecado, gerando sentimentos dualistas: por um lado, é elevada, sublimada e idealizada, mas “é tanto pura como devassa”, pois desperta no observador, desejos mundanos e carnais.

Outro aspecto relevante é o fato dela estar “sempre perdida, nunca encontrada?” sugerindo a sensação de felicidade temporária ou amor em trânsito, temas que perpassam a poesia de Vinicius.

O título do poema já revela o tema da efemeridade, da transitoriedade e da representação do sentimento inacessível que é corroborado pela passagem e a entrega total, embora passageira, através da afirmação (mudança), negação (evolução) e conflito (transição).

O que resta ao poeta são as imagens que ele capta com a passagem da mulher e as sensações que lhe causam.

http://valiteratura.blogspot.com.es/2010/12/mulher-que-passa-vinicius-de-moraes.html