EM MINHAS ÁGUAS
Desatei os meu medos
abrindo os laços
do meu vestido
E minha pele
de leve tocaram teus dedos
ávidos
incertos
feito pássaros errantes
hesitantes
No susto, me olhaste interrogativo
cativo
irremediavelmente perdido
Eras agora tão meu
tão sem defesas
menino
os dois despertos, ofegantes
E eu sentada no teu colo
a saia subida, atrevida
luz sobre as pernas expostas
Vertigem!
Nas bocas coladas
babadas
o gosto daquele conhaque
dividido na expectativa
Tudo parou
naquele instante
porque é assim
que o tempo pára!
Ah, angústias
estrepitosas, ávidas
e tu crescendo intenso
sob a minha fome
amor que não tem nome
Me beija mais,
te quero tanto... [agora]
Pensa as minhas feridas
com tua língua...
Fatal e tão perdida
ela desliza
destemida
Oh, calafrio !
O teu barco neste rio
das minhas águas
de dentro
Sedento...
enamorado conviva
nessa delícia subida
Depois, com mãos fortes
me pega pelas ancas
e bebe este vinho que verto em meu seio
Sofregamente
me bebes, ao meio!
E tu e eu
a vida
explodimos assim
ah, lugar comum pra dizer
mas explodimos sim
é neste mar sem fim
Oh, calafrio !
Das minhas águas
onde vagueia o teu barco
aonde chego
e de onde parto
errante passageira das minhas ânsias
nascem o riso e o pranto
Dessas águas me sei inteira
e quando mergulho assim tão fundo
sucumbem o medo, até a morte
sou dona da minha sorte
e a minha mais bela paisagem!