A DANÇA

“Dançar...

Estendendo os braços em direção ao céu,

Rodopiando numa volúpia mal disfarçada,

Semelhante à gaivota que, batendo as asas,

Insinua-se matreira, sedutora,

Ao mar imenso todo seu, que a atordoa,

E com precisão mergulha firme, certeira,

Como uma flexa sobre o pretendido alvo!

Dançar...

Alongando cada músculo, cada nervo,

Parecida com o desabrochar da flor,

Que ao doar-se naturalmente à vida,

Alimenta-a do mais puro e doce amor,

Com beleza, plenitude e magia.,

Tendo em troca ser parte da sinfonia,

Na fiel e grande Lei que a tudo rege...

Dançar...

Ato ancestral na alma das mulheres,

Despertando anseios esquecidos

Que em instantes se erguem, destemidos,

Para sorver a derradeira gota essencial.

Revela amores, lutas do bem e do mal,

Nessa longa jornada que é a vida,

Dando a ela um sentidotranscedental...

Dançar...

Movimentar-se ao sabor do som e o vento,

A desalinhar suas vestes e seus cabelos,

Transmutando egrégoras arraigadas,

Entranhadas em cada célula que a faz viva,

Numa peça que talvez nem fosse a sua,

Mas ninguém conseguiria interpretá-la

Com precisão de mestre e inocência de aprendiz...

“Dança mulher menina, dança!

Que teu é esse céu a amparar-te,

No Vôo de gaivota em liberdade,

Sem medos, em pleno gôzo de ir e vir

Por entre pássaros, nuvens e estrelas,

Sem desculpar-se por ousar seguir em frente

Num mundo de enganos e cicatrizes,

Pois dançar lhe basta pra ser feliz!”