Resvalos Sensuais...
Resvalo à tua boca - uma alvorada quente...
Explícito convite – inferno ou paraíso?
Do além vicejas Terra e assim doce e fremente,
sem brio e sem desdita, enfim perco meu siso!
Acolhi o roçar do teu voluptuoso toque
Surpreso com a intrépida força do teu solfejo
Levando os meus sentidos a um eletro choque
Entregas até o juízo a sonhos que tanto almejo
Resvalo à tua boca - uma alvorada quente...
És lábio mansidão – desenhas-me um sorriso?
Elipse voraz tem forma de serpente
a língua que me dás em som tão impreciso!
Acolhi os teus sensuais lábios da madrugada
E abriu-se em minha face sisuda um enorme riso
Pareceu até eclipse a esconder noite enluarada
Despertando em versos sonhos de improviso
Remexo teu anseio e em mim és só tormento,
fecundas meu pecado e sou teu santo fim...
Blasfêmia em oração, prazer e alimento!
Sinto-me bolinado pelo hálito de tua boca
Calado fica o entrelace da alma e do espírito
Vieste cutucar a onça que dormia na toca
Nascida do ato religado meio insano e insensato
Desato do relicário o símbolo consagrado
Como segurar a força desse movimento?
E então depois de aceita ao sonho dos desejos,
perfumo enlouquecida a cama e vens a mim...
Derrubas-me aos lençóis... e morro a tantos beijos!
Duo: Sílvia Mota e Hildebrando Menezes
Poetas do Amor e da Paz