SERTÃO EM TEMPOS MODERNOS

Para rever uns parentes

fui visitar o sertão,

foi gostoso o reencontro

mas, grande a decepção

por constatar de pertinho

perversa transformação.

Talvez a televisão

grande mal venha fazendo,

quem não tem discernimento

escutando tudo e vendo,

o que não eleva em nada

sempre finda absorvendo.

Os costumes dissolvendo:

ninguém vê mais na calçada

os vizinhos reunidos

contando estória e piada,

é tudo dentro de casa

e a televisão ligada.

Visita e indesejada

mesmo na casa singela

se a visita for noturna

os donos dão pouca trela

pra não serem perturbados

quando estão vendo novela.

Está desprezada a sela,

o cavalo aposentado,

hoje moto é o transporte

no caminho do roçado,

para feira, festa, missa,

trazer água e tanger gado.

Está muito transformado

do sertão o dia-dia,

na fazenda já não tem

queijo nem coalhada fria,

vendem o leite e pro café

compram pão de padaria.

Não tem aquela poesia

do sertão de antigamente

quando não tinha novela

mostrando coisa indecente

e a gente se divertia

com cordel e com repente.

Para tristeza da gente

no sertão já não há mais

as brincadeiras ingênuas

dos terreiros e quintais

está farto de violência

e sequioso de paz.

Dideus Sales
Enviado por Dideus Sales em 09/02/2008
Reeditado em 11/04/2021
Código do texto: T852290
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