SERTÃO EM TEMPOS MODERNOS
Para rever uns parentes
fui visitar o sertão,
foi gostoso o reencontro
mas, grande a decepção
por constatar de pertinho
perversa transformação.
Talvez a televisão
grande mal venha fazendo,
quem não tem discernimento
escutando tudo e vendo,
o que não eleva em nada
sempre finda absorvendo.
Os costumes dissolvendo:
ninguém vê mais na calçada
os vizinhos reunidos
contando estória e piada,
é tudo dentro de casa
e a televisão ligada.
Visita e indesejada
mesmo na casa singela
se a visita for noturna
os donos dão pouca trela
pra não serem perturbados
quando estão vendo novela.
Está desprezada a sela,
o cavalo aposentado,
hoje moto é o transporte
no caminho do roçado,
para feira, festa, missa,
trazer água e tanger gado.
Está muito transformado
do sertão o dia-dia,
na fazenda já não tem
queijo nem coalhada fria,
vendem o leite e pro café
compram pão de padaria.
Não tem aquela poesia
do sertão de antigamente
quando não tinha novela
mostrando coisa indecente
e a gente se divertia
com cordel e com repente.
Para tristeza da gente
no sertão já não há mais
as brincadeiras ingênuas
dos terreiros e quintais
está farto de violência
e sequioso de paz.