Campereada da Sarça Ardente
Deus:
Escuta aqui meu filho
que a hora agora é chegada
A voz do céu te emboscada
pra despertar-te daqui
No campo seco eu te vi
mas tua estampa altaneira
merece outra campereada
lá onde a luz verdadeira
clareia a estrada obreira
da lida que está apontada
Peão:
Mas Patrão sou tão pequeno
na lide sou só peão
não mando nem mando não
sou rio de pouco sereno
Se é pra ser vosso terreno
sou solo seco e sem vida
um pasto de pouca lida
de pouco pasto e sem gado
meu sonho foi abandonado
qual boi sem tropa perdida
Deus:
Mas não se ache um varzedo
te forjei pra nova estrada
tua alma foi arada
no tempo certo te enredo
Sou Eu que assino o segredo
de toda a gesta campeira
quem espera a tarde inteira
pra ver a lida acabar
não vê que é pra semear
que a terra fica altaneira
Peão:
E que tropa vou guiar
se nem rumo sei direito
sou homem rude imperfeito
de palavra pra tropeçar
Se um povo tem de esperar
quem lhe vá ser esperança
sou só um peão sem lança
meu braço é fraco e inerte
será que o céu me acerte
pra tocar essa fiança
Deus:
Não te quero pronto e forte
te quero justo e inteiro
humilde qual missioneiro
pois sou Eu que escrevo a sorte
Dei rumo ao sol dei ao norte
o vento que empurra estrada
dou lida a quem anda arada
dou fé a quem me escutar
então para de duvidar
que a tua missão tá lançada
Peão:
Se vosso lenço me cobre
vou aonde o tempo me leve
pois a palavra que escreve
é mais rica que ouro nobre
Se me faço peão pobre
a fé me faz capataz
se Vós mandais que eu vá em paz
eu laço a coragem Patrão
e parto pois meu coração
ouviu a ordem que me traz
Decimar da Silveira Biagini
15 de março de 2025
*Deus ainda não terminou tua obra, enquanto houver terra pra semear e lida pra cumprir a estância da vida espera pelo teu braço forte e teu sonho vivo!