Pajada de Gratidão à Nossa Senhora de Fátima, autobiografia metafísica de missões na mesma região:
I
Madre Santa escuta a voz
De um filho em terra bendita
Que já foi padre e foi herói
Na fé firme e infinita
Fui Sepp no sul missioneiro
Com Deus no peito guerreiro
Ergui capela e cantei
Na Cruz que hoje é meu berço
Pelo Cristo fiz meu verso
E ao solo a paz semeei
II
Mas veio a guerra o estrondo
A pátria em fogo e tormento
E no fragor mais hediondo
Troquei a cruz por um tento
Fui major na artilharia
Por justiça combateria
Pelos fracos empunhei aço
Mas tombado em terra estranha
Paguei meu quinhão de sanha
E dormi no frio abraço
III
Hoje renasço sem glória
Sem títulos pompas brasões
Mas trago em mim na memória
Duas passadas lições
Na justiça sou doutor
E se me falta o louvor
Tenho a causa dos pequenos
Sou dos mestres defensor
E em cada pleito ou labor
Vejo em vós Madre um aceno
IV
No templo da caridade
Cubro a dor de um lenço brando
Como o Cristo em humildade
Pelas mãos vou aliviando
Passista em casa de luz
Com a prece levo a cruz
Dos que sofrem desvalidos
Mãe bendita vossa chama
É o que aquece quem reclama
E dá fé aos esquecidos
V
Se minh’alma já vagara
Em batalhas e em perdão
Hoje é lírio que declara
Só louvor ao vosso chão
No campo em que fui semente
Minha poesia é nascente
De uma fonte a transbordar
E se o verso é minha estrada
Mãe divina e venerada
É por vós que sei rimar
VI
Se a coxilha me acolheu
Desde a infância já passada
Foi o céu que me escolheu
Pra cumprir nova jornada
Perto jaz meu corpo antigo
No Silveira um velho abrigo
De um soldado já esquecido
Mas minh’alma ah esta sim
Volta ao berço onde por fim
Tem um lar reconhecido
VII
Eis-me agora Mãe Rainha
No alto dessa elevação
Com lírios brancos sozinha
Vosso olhar pede oração
De joelhos sem espadas
Sem fardas nem alvoradas
Só com versos na mão posta
Canto à Virgem de esplendor
Pois a vida é um louvor
E a Cruz Alta é minha roça
Decimar da Silveira Biagini
13 de março de 2025