O Último Charrua
No alto de uma coxilha
Viu-se um índio repontando horizonte
Um lobo sem sua matilha
O último cocar de sua brava gente
Filho de Tupan, esquecido pelo tempo
Preso a miséria da civilização escassa
O cusco ovelheiro, seu único alento
Índio cor de cobre, esteio de sua raça
Em uma bombacha e encarnado lenço
Pés descalços e pobre, domava que dava graça
Modesto Charrua, a coronilha da raça
Que sina a sua, a última alma que passa
Parecia com pingo sem tropilha
Viveu de saudade sem canga errante
Mas não se reculutou na pandilha
Viu o encanto nativo cada vez mais distante
O rebenque da sorte guasqueou o intento
Entendeu que na lida há o dia da caça
E cantou solito aporreando o relento
A milonga tristonha de esperança escassa
Se o desejo do homem é cambicho sedento
A bonança de um é do outro a ameaça
Modesto Charrua, o fim é o livramento
Que sina a sua, espírito xucro do vento.
Decimar Biagini e Wasil Sacharuk