Quem sou eu?
Sentado e rente ao prolapso da rua,
pessoas de todas as partes,
com seus carros de todos os modos
abrem horizontes de todos os povos!
Meu vizinho é paulista,
o rosto transpira o nordeste;
minha falecida vizinha
acho que era italiana.
O Júlio e sua irmã Flávia
compõe a América Unida (mas sem colônia),
cheiram a humildade e o jeito simples,
justaposto a este fusca com a tinta flanela.
Não sei, os carros são lãs entrelaçadas,
tudo é uma linha que se cruza.
Vi um de motor de potência elevada
que me lembrou a cruzada dos incas,
mas a queda indígena dos maias.
Passou um carro moderno,
mas a minha mente ficou difusa:
a tinta era branca, o vidro preto.
Quem está por trás dessa combustão?
Qual rosto que se esconde
revelações secretas da sua região?
Ele é branco, negro, miscigenado?
Veio de cima, do sul da américa?
Daquele ou deste lado?
Não sei...
o vento está fresco aqui, o mundo
quente ferve em misturas de pessoas,
a Lua se esconde atrás da minha casa,
outra que desisti de descobrir.
Acho que vim de outro planeta,
da região de Saturno, onde transpiro
o vazio em gás nas juntas;
nos ossos, nos pés, na imaginação...
Enquanto os carros andam com agulhas,
costuro no meu âmago só perguntas.
Quem está por trás das dúvidas?
Eu sei que sou pardo, o rosto meio isso,
meio aquilo. O corpo comum
mas a tranquilidade filosófica meio rara.
Eles vivem de todos os lados,
— Reto eu acelero... Só mais um...
Na multidão de nós que os passos
se perdem em complexidades.
Quem sou eu?