O VOLUNTÁRIO

Tapuia Rosa

Tão engenhosa,

Muito fazia,

Redes tecia.

E era orgulhosa,

A tapuia Rosa,

De ter parido

O mais temido

Dos pescadores.

Pedro era forte,

Homem do norte,

Rapaz tão nobre,

Irmão do pobre.

E que voltava

Sempre pra casa

C'um bom pescado

Pro seu assado

E dos moradores.

Assim vivia

Com alegria,

Em boa paz

O bom rapaz.

E sua mãe Rosa,

Sempre saudosa

Do seu marido

Já falecido

Há alguns anos,

Vivia bem,

Sem de ninguém

Nada queixar

Nem reclamar;

Junto do filho,

Que no seu trilho,

Dela cuidava

E cogitava

Bem poucos planos.

Mas eis que um dia

Na calmaria,

Chegou a guerra

E a paz se encerra.

Recrutamento

Era um tormento

Para os rapazes

Que eram capazes

De guerrear.

Pedro escutava,

Não receava.

Era a sua luva,

Sua mãe viúva.

E nem sabia

Que chegaria

Certo Fabrício

No seu ofício

De recrutar.

Pedro é sondado

E recrutado

E luta à toa.

Preso à canoa,

Como um qualquer,

Vai pra Alenquer.

A mãe, coitada,

Fica amarrada

E deixada só.

Mas quando o dia

Ela já via,

Olhou em volta

E com revolta

Quis levantar,

Não pôde andar.

Pernas e braços

Sob os abraços

De um forte nó.

Rosa ferida,

Foi socorrida,

Em febre ardia

Mas não queria

Sequer deitar

Pra descansar.

Rede vazia,

E embora ia

A velha Rosa.

Ninguém sabia

Por onde havia

A velha tapuia,

Se de bubuia,

Se nas beiradas,

Se nas estradas...

Des que partiu,

Nada se ouviu

Daquela idosa.

Em Santarém

Buscou-me alguém

Desconhecida

De tão sofrida...

Reconheci!

E dela ouvi

Sua triste história

Plena de inglória

E muitos ais.

Os recrutados

Foram levados

Para os vapores

Em meio à dores.

Ninguém falava,

Somente olhava

Aos que partiram,

Os quais sumiram

Em outra terra.

Fui ao juiz

De tudo fiz.

Mas tudo em vão,

Sem solução.

E foi-se Pedro

Cheio de medo

Cortando o rio

Num tal navio

Lutar na guerra!

Fiquei irado

Com o magistrado.

Que, calmamente,

Disse: "Se assente,

Pois não podemos

O que queremos:

Salvar o mundo

Em um segundo.

Quer um café?

E, então, se via

A qualquer dia

A qualquer hora

Uma senhora

De blusa e saia

Lá pela praia

Andando louca,

Cantando rouca

Sua insana fé:

"Meu anel de diamantes

Caiu nágua e foi ao fundo;

Os peixinhos me disseram:

Viva Dom Pedro Segundo!"

Releitura poética do Conto

O VOLUNTÁRIO, de Inglês de Souza.