A alma de São Gonçalo: um tributo aos cassacos
Nos vastos sertões do Nordeste, onde o sol se derrama,
Ergue-se a figura dos cassacos, trabalhadores braçais,
Almas moldadas pela dureza, onde a vida clama,
Pela força das mãos calejadas e espíritos imortais.
Chamavam-nos cassacos, como o animal das matas,
Que carrega os filhos no ventre, desafiando a sorte,
Assim levavam a vida, com filhos presos às patas,
Desafiando distâncias, enfrentando a morte.
Em novembro de 32, o calor implacável, 220 mil a trabalhar,
São Gonçalo deve sua existência a esses homens de fé,
A rotina dos cassacos, um mosaico de sofrer e lutar,
Sem garantia de futuro, sem promessa de um pé.
Zé Caíca, símbolo de resistência, no Sítio Trapiá nasceu,
Desde criança, nas obras do açude, suor e sonhos verteu,
Nos anos 40, com irmãos e primos, ao trabalho se rendeu,
Jornadas que começavam na madrugada e ao anoitecer se deu.
Os cassacos, de diversas localidades, na casa de força abrigados,
Acordavam cedo, antes do sol, para o Posto de Agronomia seguir,
Juvenal, o apontador, nomes de guerra, identidades moldados,
Durante o dia, a cabaça guardava a água para a sede suprir.
Às onze, ao açougue de Raimundo Braga, carne e farinha comprar,
Almoço simples, cozinhado em fogões improvisados,
O intervalo curto, logo voltavam à labuta, sem descansar,
O jantar, às cinco, no local de labor, corações cansados.
Às seis, regressavam à vila, histórias e sonhos partilhar,
A luz fraca da casa de força, a energia intermitente,
Às dez, a noite os envolvia, a brisa a descansar,
Em meio à rotina árdua, a vida seguia, persistente.
Em 1942, uma mulher deu à luz na casa de força, esperança renovada,
O pagamento, esparso e incerto, aguardado com ansiedade,
A jornada de 44 horas, a feira semanal, a vida marcada,
Farinha, feijão, arroz, rapadura, pão e café, a simplicidade.
No dia 7 de setembro, desfilavam, ferramentas em mãos,
Tratores, caminhões, motocicletas, escavadeiras,
Dr. Paulo Guerra, discursos inflamados, corações em canções,
Os cassacos, com mãos marcadas, construíram mais que barreiras.
Edificaram a alma de São Gonçalo, nos registros e memórias,
Narrativas de sacrifício e coragem, tributo eterno ao sertão,
Nos vastos sertões do Nordeste, onde a lua conta histórias,
Os cassacos, heróis anônimos, moldaram a nação.