Os Anônimos do Sertão

Nas trilhas secas do sertão,

Braçais, sem vínculos ou guarida,

Os cassacos, em dura missão,

Forjavam São Gonçalo, a vida sofrida.

Tal como o cassaco da mata adentro,

Em longas jornadas, de sol a sol,

Carregavam os filhos no ventre, ao relento,

Construtores da terra, do sonho, do arrebol.

Eram homens simples, de alma bruta,

Sem direitos, sem resguardo ou promessa,

Nas mãos, o calo; na vida, a luta,

Trabalhavam sem descanso, na mais dura pressa.

Zé Caíca, um labutador dentre tantos,

Nas obras do açude, nas frias madrugadas,

Viu desde menino os irmãos em prantos,

Na construção de drenos, nas jornadas alongadas.

Sem casa ou cama, dormiam na força,

A antiga estrutura, agora uma estorça,

Dormiam cedo, acordavam com a luz,

Seguiam à pé, sem café, numa cruz.

No Posto de Agronomia, a chamada ecoava,

Pela voz de Juvenal, cada nome ressoava,

Com uma cabaça, guardavam água e esperança,

Para enfrentar o dia, com fé e temperança.

Às onze, compravam carne, farinha e afeto,

No Barracão de Raimundo, o dia era discreto,

O almoço cozido, o jantar a sapecar,

No fim do expediente, o regresso a prosear.

Sob a luz fraca, a casa era abrigo,

Nas noites frescas, o descanso buscavam,

Redes próximas, sonhos a perigo,

E na madrugada, novamente lutavam.

Em 1942, uma vida nova surgiu,

Entre caldeiras, uma criança nasceu,

Na casa de força, o destino reluziu,

Em meio ao trabalho, a esperança viveu.

Pagos a cada dois meses ou mais,

Deixavam gratificação, sem iguais,

O pedreiro ganhava um pouco melhor,

Mas todos sofriam, a luta era maior.

Quarenta e quatro horas semanais,

Incluindo sábado, sem finais,

Faziam feira, a caderneta a guiar,

Com farinha, feijão, arroz e um lugar.

E no desfile de sete de setembro esplendoroso,

Tratores e caminhões, o povo assistia encantado,

Com ferramentas, a marcha em tom laborioso,

Dr. Paulo Guerra, no alto, discursava inspirado.

Gabriel Florêncio, a máquina clicava,

Os momentos sublimes, em fotos guardava,

Os cassacos, heróis sem medalhas ou nome,

Construíram São Gonçalo, na luta e na fome.

Assim, nas memórias, a história ecoa,

Os cassacos, gigantes na vida tão boa,

Com suas mãos calejadas, ergueram a cidade,

São Gonçalo vive, na sua eternidade.

Josemar Alves
Enviado por Josemar Alves em 12/07/2024
Reeditado em 28/07/2024
Código do texto: T8105304
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