Rio do Pinto

Em tempos idos,

quando o silêncio dominava o ar

e a quietude era a única companhia,

não se ouvia o cacarejar das galinhas,

nem se avistavam artistas exibindo suas visões.

As artes que ali surgiam eram toscas e rústicas,

moldadas pela simplicidade que se firmava no chão.

Mas, eis que a terra, outrora intocada,

se viu transformada em feitoria.

Um pedaço do céu foi negociado,

e pincéis ancestrais lutavam

para capturar as cores de um destino que se despedia.

A rusticidade cedeu lugar ao comércio,

e a alma do lugar foi trocada por um futuro incerto.

Os sonhos, antes nutridos por uma verdade pura,

foram subjugados pelo brilho das artes inventadas,

fabricadas para atender à ganância que repousava oculta.

Descobertas inesperadas despertaram essa avareza adormecida,

trazendo à tona desejos que corroíam a essência do lugar.

Ah, se fossem apenas filhos das galinhas

ou vestígios de tempos há muito esquecidos!

A terra que definhava, agora chamada de "Pinto",

murchava nas telas dos pintores esquecidos da Bahia,

que tentavam, em vão, resgatar a beleza

e a autenticidade de um passado que teimava em se perder.

Samuel de Amaral Macedo
Enviado por Samuel de Amaral Macedo em 08/07/2024
Código do texto: T8102626
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.