Rio do Pinto
Em tempos idos,
quando o silêncio dominava o ar
e a quietude era a única companhia,
não se ouvia o cacarejar das galinhas,
nem se avistavam artistas exibindo suas visões.
As artes que ali surgiam eram toscas e rústicas,
moldadas pela simplicidade que se firmava no chão.
Mas, eis que a terra, outrora intocada,
se viu transformada em feitoria.
Um pedaço do céu foi negociado,
e pincéis ancestrais lutavam
para capturar as cores de um destino que se despedia.
A rusticidade cedeu lugar ao comércio,
e a alma do lugar foi trocada por um futuro incerto.
Os sonhos, antes nutridos por uma verdade pura,
foram subjugados pelo brilho das artes inventadas,
fabricadas para atender à ganância que repousava oculta.
Descobertas inesperadas despertaram essa avareza adormecida,
trazendo à tona desejos que corroíam a essência do lugar.
Ah, se fossem apenas filhos das galinhas
ou vestígios de tempos há muito esquecidos!
A terra que definhava, agora chamada de "Pinto",
murchava nas telas dos pintores esquecidos da Bahia,
que tentavam, em vão, resgatar a beleza
e a autenticidade de um passado que teimava em se perder.