Rio Negro
No berço dos quilombos altaneiros,
Surges, pai dos vales e planaltos,
Teu filho, rio serpenteante,
Absorve a seiva que lhe dás,
Mantém-se forte até que mãos
Avarentas lhe perturbem o curso.
Perdido em meandros caprichosos,
Desorienta seus filhos,
Agora sem abrigo, sem rumo, sem vida,
Meeiro nas terras dos herdeiros,
Apossadas em nome do progresso,
Do Estado e da fé, para servir
À família exemplar, tão culta.
E ao menos teu nome persiste,
Ligado à essência primeva,
Enquanto os filhos, legítimos ou não,
São arrancados do solo,
Desligados das raízes fundas,
Para o bem do próprio pai.
Mas o eco de suas vozes ressoa,
Nas margens que um dia os acolheram,
Sussurrando verdades antigas,
Desafiando a correnteza do tempo,
Clamando por justiça nas águas escuras,
Que ainda guardam memórias vivas.