Rio Negro

No berço dos quilombos altaneiros,

Surges, pai dos vales e planaltos,

Teu filho, rio serpenteante,

Absorve a seiva que lhe dás,

Mantém-se forte até que mãos

Avarentas lhe perturbem o curso.

Perdido em meandros caprichosos,

Desorienta seus filhos,

Agora sem abrigo, sem rumo, sem vida,

Meeiro nas terras dos herdeiros,

Apossadas em nome do progresso,

Do Estado e da fé, para servir

À família exemplar, tão culta.

E ao menos teu nome persiste,

Ligado à essência primeva,

Enquanto os filhos, legítimos ou não,

São arrancados do solo,

Desligados das raízes fundas,

Para o bem do próprio pai.

Mas o eco de suas vozes ressoa,

Nas margens que um dia os acolheram,

Sussurrando verdades antigas,

Desafiando a correnteza do tempo,

Clamando por justiça nas águas escuras,

Que ainda guardam memórias vivas.

Samuel de Amaral Macedo
Enviado por Samuel de Amaral Macedo em 08/07/2024
Código do texto: T8102435
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