Cantiga do Tobiano: Poemas Campeiros

A cuia morena queimada,

Do beiço largo e aberto,

Espera a bomba de prata

Em um abraço completo.

Em um ritual quase sagrado,

Derrama-se o mate amargo.

A mão em concha, o agrado,

E o beijo do primeiro trago.

O gaúcho cisma sozinho

E olha longe a campanha.

Com o poncho faz o ninho

E só o peito sabe que ama.

Lá fora o potro tobiano

Descansa o lombo liso,

E o sopro do minuano,

Apita e manda o aviso.

Se espalha o frio no vale.

Onde estaria a chinoca?

Talvez tecendo um xale,

Fiando as linhas na roca.

A cor da cuia morena...

A mesma pele charrua,

O tilintar da chilena...

E a luz dourada da lua.

O gaúcho espera e sonha,

E o sonho repõe o vigor.

O aperto do peito acalma

E entrega-se firme ao labor.

E numa tarde dourada,

Com o tobiano na trilha,

Voltará para a sua amada

A linda flor das coxilhas.

Kleber Versares
Enviado por Kleber Versares em 03/05/2024
Reeditado em 07/08/2024
Código do texto: T8055440
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