A MOÇA DO CORETO

Com seu vestido de chita

Que usava com tanto gosto,

Somente um laço de fita

No cabelo estava posto,

Mas o doutor se encantou,

Jamais no mundo encontrou

Olhos tão belos num rosto!

O doutor olhou profundo

Nos olhos da cor do céu,

Nunca viu em todo mundo

Olhar tão puro e fiel,

Como o da moça morena,

Seu sorriso era um poema

E a voz doce como mel!...

Foi no centro do coreto

Que esse fato aconteceu,

Que a chama do amor, no peito,

De repente se acendeu.

Uma história tão bonita,

Que lembrando a gente fica

De “Julieta e Romeu”!

(...)

Foi aí que essa notícia

De repente se espalhou,

Uns diziam: “que coisa linda!”

Outros: “doutor endoidou!”

“Como pode um rapaz nobre

Namorar u'a moça pobre?”

“Por certo lhe enfeitiçou!”

(...)

Mas grande dificuldade

Estavam por enfrentar,

O pai de Doutor Luiz

Não quis namoro aceitar.

Pois o rico fazendeiro

Só pensava que dinheiro

A moça queria tomar!

“Meu filho tome juízo!

Mas que tristeza! que horror!

Paguei estudo em Recife,

Eu lhe fiz ser um doutor

Pra me dá esse desgosto?

Se apaixonar pelo rosto

Da filha dum agricultor!”

(...)

Foi marcado o casamento

Para uma noite de abril,

O pai chorou de desgosto,

Tamanha raiva sentiu.

“Que coisa triste, meu filho,

Você saiu do meu trilho,

Por essa moça que viu!”

Ele pensou em matá-la,

Mas depois voltou atrás,

Pois certamente a bala

Lhe feriria muito mais;

Pois sentiu no coração

Que nunca teria o perdão

De seu filho Luiz Ferraz!

(...)

Finalmente chega o dia

Do casamento marcado,

Julião, o pai do noivo,

Estava muito arrasado.

Querendo, de alguma forma,

Mudar lei, mudar a norma,

Ver o casório acabado!

A casa paroquial

Julião foi visitar,

Numa distração do padre

Veja o que foi aprontar:

Vendo perdida a peleja

Rouba a chave da igreja

Pro filho não se casar!

(...)

Dr. Luiz de mãos dadas

Com Rosa Maria seguiu

Para o lugar mais bonito

E mais importante que viu,

Quando nu'a noite de festa,

Ouvindo o som da orquestra,

Seu grande amor descobriu!

E Rosa Maria, de branco,

Subiu os degraus do coreto,

Foi tanta emoção e encanto

Quando ela disse: “eu aceito”;

Quando o noivo tirou o véu

E beijou os lábios de mel

Com todo amor de seu peito!

— Antonio Costta

(Trecho do livro A Moça do Coreto)

https://clubedeautores.com.br/livro/a-moca-do-coreto