Payada da Cruz Alta

Meus versos aqui são simplórios

Lembranças dos causos de galpões

Memórias ancestrais dos fogões

Peões com gaúcho repertório

Sussurros ao guri no envoltório

Do nativismo na mantença

Payar é mais do que uma doença

Um mau-olhado ou quebranto

E eu sou instrumento de santo

E dominado se não dão crença

Bisneto de curandeira

Tetraneto de sesmeieiro

Trisaneto de parteira

E neto de estanceiro

Se me chamo hoje improvisador

É por ter crescido sem dinheiro

Pois tive pai historiador

Professor que não tirava nem para o cheiro

Do poeta que quando encanta

Escreve mais por ter má garganta

Que até o silêncio é mais ligeiro

Já fiz parceria com Sacharuk

Deste chão fronteiriço das nuvens

Com Neide fiz feitiço sem batuque

Recitei Fernando Pessoa e até Nelson Rubens

Depois de escrever por Ibope

Na bárbara dependência

Até migrei para NOP

Fiz valsa de poetas com decência

Do taura do Chasque e do Soneto

Eu mesmo me aquerenciei

Lá na Inspiraturas fazendo dueto

Depois parti para outra querência

Hoje facilitar me apetece

Agradeço às academias da vida

ALPAS 21, AVBL e ALBL-RS

Ao fim, Poéticos, pela acolhida

Feliz de ver amigos da antiga

Aglaure, Rogério e Marilene

Marisa, Bia e Anorkinda

André, Daniel e Helen

Grato pela sorte obtida

Nova safra aqui semeiam

Gabriel, Edi, Riehl e Rozelia

Feliz quem compartilha

A união de poesia tão séria

Decimar da Silveira Biagini

Homenagem ao Grande Jayme:

"E se ela me foi tomada

Num raio guacho de luz

Quando a beleza da cruz

Curvou-se à força da espada

Extinta a chama sagrada

Que toda cultura encerra

Eu que fui morto na guerra

Num barbaresco repuxo

Me transformei em gaúcho

E renasci sobre esta terra."

Esse trecho dele, explica o que é uma verdadeira pajada gaúcha, e uma cruz missioneira!