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O CASARÃO

 

Valdir Rangel

 

 

 

No alpendre da casa que eu morava

Tinha muitas redes de dormir

Nas noites estreladas,

Quando a lua aparecia

Eu me balançava na rede e dormia

Mamãe arrumando a casa

Papai consertando as celas

O mugido do gado inquieto

O barulho da cancela

Tudo em mim ficou guardado

Aquela casa tão grande

Com mais de vinte janelas

  

Tudo era bem diferente

Havia novena, e quaresma

O cavalo era o transporte

No osso ou na cela

Na feira da cidade

Se vendia, tamborete e panela

A palavra era sagrada

Depois de empenhada

O sangue dava na canela

Tudo em mim ficou guardado

Aquela casa tão grande

Com mais de vinte janelas

 

As moças eram bonitas

Por sinal eram donzelas

Se fazia romarias

Se dançava pé de serra

O tempo era outro

Não havia essa baderna

A alimentação se tirava

Do plantio feito na terra

Mais pra se colher direito

Havia um tempo de espera

Tudo em mim ficou guardado

Aquela casa tão grande

Com mais de vinte janelas

 

Na sala um lampião

Duas poltronas amarelas

Um retrato de pai e mãe

Um quadro em aquerela

Meus irmãos pra se esconder

Pulavam as janelas

Na cozinha um cheiro de café

Cuscuz com galinha e cabidela

Eita casa grande

Nunca vi outra mais bela

Tudo em mim ficou guardado

Aquela casa tão grande

Com mais de vinte janelas