OS REMARES DO RIO
O rio não espera o sol nascer para ganhar vida
Da mãe que não dorme ante a barriga sofrida
à criança que nasce experimentando o vazio
Do pai que se lança às águas escuras do rio
A fome pungente, o sangue latente, a poronga
que se acendem nas veias do ribeirinho guerreiro
A canoa perdida, a tarrafa que abraça, a pidonga
Das pinturas nas águas e as remadas: banzeiro
Não morrem quando anoitece as águas correntes:
tornam-se escuras, fomes caladas, estômago vazio
Família espera, herói que demora, lendas viventes
As onças temidas, as feridas, os remares do rio