CHEIROS
I
Os cheiros da minha infância
Transbordam de um tempo antigo
Um naco de fumo em rama
Um jasmim posto em jazigo
II
Pão caseiro fumegando
Manjerona, alecrim
A infância reverbera
Nos cheiros que guardo em mim
III
Capim molhado da chuva
De véspera desabado
Vai ficando na lembrança
Eternamente marcado
IV
Os cheiros da minha infância,
Do tacho de marmelada,
Vêm do pátio, vêm da estância,
Vêm do pão com goiabada
V
Os cheiros da minha infância
Carregam um hálito morno
Lembram chuvas veraneiras
E pão assado no forno
VI
Os cheiros da minha infância
Têm suor da cavalhada,
Aura de galpão de estância
E olor de terra molhada
VII
Em minha memória olfativa
Há um punhado de cheiros
Cada eflúvio me cativa
Aromas do amor primeiro
VIII
Hoje de cabelos mouros
Volto à infância faceiro
Pelo olfato carinhoso
Que revivo em cada cheiro
IX
As macelas com fragrâncias
As laranjeiras floridas
Ao lembrar o mel da minha infância
Vou adoçando minha vida
X
Os cheiros da nossa infância
Assomam tais quais quimeras
São vapores despendidos
Por antigas primaveras.