nem amarrado
Nem amarrado
Eu um caboco da roça
um cumedô de Pirão
nunca pensei que um dia
o destino mandaria
eu entrá num avião
foi dez dia de angustia
onze noite sem durrmir
e o juízo a preguntá
se eu iria aguentá
na hora dele subir
Qui hora difice seu moço
eu comecei a suá
as minhas pernas tremeu
a vista escureceu
danei-me a vomitá
Isso foi no aeroporto
antes de entrá no danado
acho que dismaei
e quando me acordei
já tava dentro sentado
Mas como todo caboco
qué dá uma de machão
procurei me acalmá
e resolvi viajá
no peste do avião
Na hora de decolar
me apressa o coração
o sangue foge da veia
eu fui vendo a coisa feia
chega melou o calção
no lugar do assento
embaixo tava uma poça
ai o vizinho gritou
e logo ali chegou
uma tal de era moça
Nesse momento eu fiquei
com uma vergonha danada
um tanto quanto acanhado
triste quieto calado
mudo sem fala nada
Com todo tipo de santo
nessa hora me agarrei
fiz prece fiz oração
até para o avião
nesse momento rezei
lá vai o bicho no ar
e eu alí quase morto
daí pra frente eu não sei
acho que desmaiei
porque só acordei
lá no outro aeroporto
Agora estou aqui
sobrevivi o atentado
e digo com precisão
pra voltar de avião
não volto nem amarrado